Ocupação não é política, afirmam alunos do Cecy

Escola foi a terceira a ser ocupada em Passo Fundo

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Um movimento apolítico. Assim definem os alunos que ocupam o Instituto Estadual Cecy Leite Costa desde a terça-feira (17). A escola foi a terceira de Passo Fundo a aderir à iniciativa, que ocorre em diversos municípios do Rio Grande do Sul. A ocupação de escolas ganhou força a partir do movimento de paralisação dos professores estaduais, iniciada na segunda-feira (16). O magistério reivindica aumento salarial entre outras coisas. “Muitas pessoas de partidos políticos vieram aqui, organizações se dizendo estudantis, mas que por trás tinham partidos que tentavam nos manipular”, afirma o estudante José Augusto Rodrigues, de 16 anos, do terceiro ano. “Mas nós não pendemos para nenhum dos lados. Não somos esquerda nem direita. Apenas lutamos pela educação”. Segundo ele, apenas a Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel) está ligada à ocupação dos alunos do Cecy.

Essa independência também é defendida pela aluna Larissa Castro, de 18 anos. “Isso nós deixamos claro para todos que querem nos ajudar: nós estamos aqui pelos estudantes, pela educação, pelos nossos direitos. Não tem partido nenhum envolvido. Estamos em um movimento de união, mas sem colocar partido no meio”, pontua a aluna do terceiro ano. “Se quiser nos ajudar, que nos ajudem com mantimentos, palestras, eventos de música.”

José e Larissa são do Grêmio Estudantil do Cecy, que desde a última quarta-feira da semana passada (11) se mobilizou para a ocupação. Desde então, os alunos tiveram reuniões com professores e a direção para acertar como seria feita. “A comunidade escolar toda autorizou a ocupação e fomos colocando em prática”, lembra José.

 

No primeiro dia

Na terça-feira, primeiro dia da ocupação, entre alunos e professores, nove pessoas dormiram na escola. Eles foram acomodados em duas salas separadas, uma para os meninos e outra para as meninas. O número de participantes, segundo os organizadores, deve aumentar nos próximos dias. “Tem um pessoal que não está muito interessado, talvez por desconhecimento. Alguns acham que é uma coisa boba. Mas, quem se interessa, a gente explica qual é a nossa luta e alguns participam”, diz Larissa. A estudante avalia como positiva o ocupação, que deve oferecer aulas práticas, palestras e eventos nos próximos dias. “Parece que as pessoas estão caindo na realidade do que está acontecendo. Porque antes não tinha esse negócio de vir e fazer o que estamos fazendo aqui”, pontua.  Os alunos se organizam entre si para realizar as atividades, como limpeza, o preparo da alimentação e mesmo a segurança da escola.

 

O que eles querem?

Além de apoiar as professores, os alunos reivindicam a construção do refeitório, garantia de merenda para todos e reforma da quadra esportiva. Eles são contra a privatização das escolas públicas (PL 44/16) e contra o Programa Escola Sem Partido (PL 867/2015). “A ocupação vai durar até conseguirmos nossas reivindicações”, diz José. “Vamos para a luta mais uma vez. Se não conseguirmos continuar ocupados aqui, nós vamos para a rua.”

O Cecy conta atualmente com cerca de mil alunos. Mas nem todos apoiam a ocupação. “Recebemos algumas críticas. Alguns alunos são de opiniões contrárias, mas temos que aceitar. Assim como eles também têm que aceitar os nossos motivos”, diz Larissa. “Já ouvimos até que somos invasores. Nós não estamos invadindo. Estamos ocupando um espaço que já é nosso.” A organização fica a cargo de professores, que acompanham os alunos em todos os períodos. Mas só permanecem no interior da escola os adolescentes que tiveram autorização escrita dos responsáveis.

 

O que diz a direção

Uma das vice-diretoras da escola Marlei Biondo acompanhava os alunos durante a tarde de quarta-feira (18). Para ela, a ocupação é uma situação nova, de protagonismo dos estudantes. “Este é um momento histórico, de participação efetiva, objetiva dos alunos. Eu vejo este momento como um amadurecimento, que nós estamos vendo desde o ano passado, retrasado, desses movimentos que vão para a rua”. Segundo a vice-diretora a escola seguirá apoiando os alunos durante os próximos dias. “Algumas pessoas acham que isso [a ocupação] é baderna, crime, mas não tem ninguém aqui destruindo a escola”, pontua a vice-diretora. Segundo a página do Facebook “Ocupa tudo RS”, pelo menos 76 escolas estão ocupadas em todo o Estado. Em Passo Fundo, além do Cecy, Adelino Pereira Simões, Cardeal Arcoverde, Nicolau de Araújo Vergueiro, Eulina Braga
Fagundes dos Reis e Protásio Alves foram ocupadas até a tarde de quarta-feira, segundo a mesma página.

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