“O movimento é significativo, mas ocupações não podem cercear o direito de ir e vir do cidadão”, enfatiza o coordenador da 7ª Coordenadoria Regional de Educação, Santos Olavo Misturini que acrescenta, também, que as ações nas escolas mostram a força estudantil não só em Passo Fundo, mas em todo o Rio Grande do Sul. Até o fim da tarde desta quinta-feira, 19, dez escolas estaduais estavam ocupadas na cidade. No estado, o número aumenta: são mais de 70 ocupações. Por aqui, Anna Luisa Ferrão Teixeira, General Prestes Guimarães e Ernesto Tochetto, últimas escolas a aderir às ocupações, Adelino Pereira Simões, Cardeal Arcoverde, Cecy Leite Costa, Nicolau de Araújo Vergueiro – EENAV, Eulina Braga, Fagundes dos Reis e Protásio Alves concentram, em seus prédios, alunos do Ensino Médio que apoiam a greve dos professores, que iniciou ainda na segunda-feira, 16, e reivindica pelo pagamento dos salários. Os alunos buscam, ainda, melhorias nas escolas e a defesa da educação pública. Nenhuma das ocupações, que ganharam força a partir da paralisação do magistério e se espalharam pela cidade, tem data para terminar. A previsão é de que mais três escolas sejam ocupadas.
Os dados da 7ª CRE apontam que 23 escolas estão trabalhando normalmente e outras cinco seguem com período reduzido. A greve total acontece nas escolas ocupadas. “Os professores e alunos estão mobilizados. A greve ganhou força e ocupar a escola é um movimento que eu considero significativo porque está sendo feito por alunos, com algumas exceções onde temos entidades estão por trás e isso não apoiamos. Ainda assim, é uma atividade nova que poderá nos trazer novos líderes e é importante destacar que a organização precisa de estrutura. É um desafio. E quem está organizando isso está entendendo que, em qualquer processo, só se conquista algo com muita luta”, acrescenta o coordenador.
O diretor do Núcleo do CPERS Sindicato de Passo Fundo, Orlando da Silva, explica que a estratégia do Sindicato se volta, agora, para as escolas afastadas do centro da cidade. “A situação da greve é de consolidação. Agora, vamos iniciar a mobilização das escolas de periferia e as manifestações já iniciaram e seguem ainda hoje. Vamos fazer reuniões e ações externas para que haja maior adesão”. Ele acrescenta, também, que a tendência, a partir do momento em que as escolas centrais estão ocupadas, é de o movimento se espalhar pela região. “Existe possibilidade de ocupação nas escolas da região, como em Marau, por exemplo. Estamos organizando a greve e apoiando as ocupações. Julgamos que os alunos tem autonomia para decidir ocupar ou não. É uma manifestação dos alunos. Nós vamos trabalhar com os professores para aderir a greve”, coloca.
Cenário
As demandas dos estudantes envolvem melhores condições de infra-estrutura das escolas, alimentação escolar, repasse dos recursos necessários ao funcionamento, contra o fechamento de salas de laboratórios e bibliotecas, contra a falta de professores e por maior investimento em projetos pedagógicos e culturais, dentre outros. Dormindo nas escolas, os secundaristas estão, na maioria das ocupações, concentrados em tarefas a partir de grupos: o movimento cuida da limpeza dos prédios, das refeições dos alunos que participam das ocupações e de atividades como oficinas e aulas públicas, ministradas por voluntários que apoiam a causa. No Protásio Alves, que soma quase 30 alunos na ocupação, as atividades e oficinas vão iniciar na próxima semana. “Estamos, nessa semana, nos organizando, recebendo doações e vendo o que precisamos para nos manter dentro da escola. As atividades já foram pensadas, estamos fazendo reuniões e organizando uma agenda para semana que vem. Temos estudantes universitários, professores e entidades que ofereceram projetos de fotografia, palestras, aulas de história e compreensão do cenário atual”, comenta Bernardo Monteiro, integrante do Grêmio Estudantil.
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Aulas Públicas
A União da Juventude Socialista, que apoia e orienta o movimento de ocupação, através de uma parceria com a Casa de Cultura Vaca Profana está mobilizando os Grêmios Estudantis para organizar a ocupação através de comissões e, ainda, oferecer, aos alunos, aulas públicas de diferentes matérias. “Estamos fazendo a interlocução para que os alunos tenham acesso a debates de cunho social, aulas abertas para que os estudantes não fiquem sem programação, sem agenda”, explica Francieli Teixeira, integrante da UJS.
Apoio
O Observatório da Democracia e a Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo manifestaram, em nota, apoio ao movimento estudantil secundarista e às ocupações. “A educação é direito público subjetivo, devendo sua oferta e qualidade social ser garantida pelo Poder Público. Esses(as) adolescentes, manifestando-se pela efetivação do direito à educação em sua plenitude, encontram-se no exercício do direito à participação”, colocam e acrescentam, ainda, que tanto o Observatório quanto a CDHPF também se solidarizam com os educadores do Estado e propõem, ainda, que Governo Estadual e a 7ª Coordenadoria Regional de Educação iniciem negociações imediatas com o CPERS/Sindicato e com os estudantes.
Denúncia
Segundo a 7ª CRE, nenhuma ocupação pode impedir a entrada ou saída de pessoas das escolas. Caso isso aconteça, a orientação é que seja encaminhada uma denúncia ao Ministério Público.