A semana iniciou sexta passada, para mim, pelo menos, pela arte de Luís Marenco e Gabriel Selvage que, em selvageria de puro encanto e arte, hipnotizaram as centenas de pessoas que compareceram ao Palazzo da Vera Cruz para beber, literalmente, da arte e paixão pelo que somos, brasileiros-missioneiros-argentinos-uruguaios. É difícil, mas não impossível, estabelecer o que é de maior magia. Poderia dizer que é o violão de Gabriel ou a voz de Marenco. Não, absolutamente não, a magia está na cumplicidade dos relacionamentos em que enfeitiçados pela magia da cultura do gaúcha em que percebemos, ainda uma vez, que o melhor do Rio Grande é a pessoa, a figura do riograndense que, em seu cerne mais puro, conta das peleias, das domas, das lidas, da vida rural. Porém, o que mais encanta aos não gaúchos é o perto de mão, é a solidariedade, o encanto da maneira de falar, é a autenticidade manifestada pela singeleza do ser do verdadeiro representante do que somos e do que nunca deveremos deixar de ser – eu sou gaúcho e me chega para ser feliz no universo. Obrigado Flori e Sônia pela magia do momento eternizado, obrigado pela amizade; vou comprar minha pilcha, prometo.
O cenário é um bar em frente Shopping Higienópolis. Atores: Ramon, eu e três homens mais velhos em mesa ao lado. Cantavam e dedilhavam na mesa e em caixas de fósforos, misturadas a garrafas de cervejas, velhas canções anos 60. De repente, atrasado, chega mais um da turma, em fuga enrustida de sua mulher para encontrar seus amigos de décadas, afinal era um sábado e as mulheres que nos amam, em geral, não abrem mão de nossas companhias. Continuaram a cantar e eu conhecia todas as músicas, a cada uma delas eu dizia ao meu filho a autoria e quem havia gravado. Então, começaram a cantar: “veja só, que tolices nós dois, brigarmos tanto assim...” e alguém da mesa perguntou de quem era a música. Não resisti e falei que era de Jair Amorim e Evaldo Gouveia (1959) gravada por Altemar Dutra e que constava em um CD produzido pela BMG em dueto com Cauby. Foi mágico para esse interiorano em um bar de São Paulo; para você, caro leitor pode parecer somente um pequena bobagem.
Essa semana Cauby foi embora, como já fora há muito, o seresteiro Altemar. Ficaram alguns, entre eles, o quase esquecido Moacyr Franco, o grande show-man do Brasil. Não morreu Cauby, morreu um jeito de cantar, morreu o cantor que interpretava suas canções, o cara que cantava com o coração, que colocava a alma em suas mãos e gestos. Houve um tempo dos cantores de vozes possantes, laringe encorpada. Cresci ouvindo esses caras, ao mesmo tempo em que curtia as músicas italianas marcantes de há cinquenta anos. Agora, é o lepo-lepo; agora é qualquer coisa, não é preciso ter voz, nada é preciso além de estúdio e efeito especial; e se tudo falhar apelamos ao escandaloso play-back - Cantei, cantei...chorei, chorei até ficar com dó de mim...