Jucinara de Magalhães, 38 anos, e Rodrigo Carnacini, 46, foram à Catedral Metropolitana de Passo Fundo na terça-feira (17). A visita tinha o objetivo de levar os papéis para acertar o batizado da filha Leona, de dois meses. Lá, o pai disse à atendente que eles e os futuros padrinhos não professavam a fé católica. “Agimos dessa maneira por ser o certo. Não iríamos mentir para batizar nossa filha. A atendente disse que seria melhor falar com o padre”, disse o pai em uma postagem no mesmo dia, no Facebook, que gerou debates sobre a situação.
Eles, então, foram conversar com o padre Ari Antônio dos Reis. “Ele pegou a certidão de nascimento e me perguntou: ‘Por que vocês querem batizar a Leona?”, disse Jucinara. “Aí o Rodrigo falou que achava importante batizar em função de que os avós, tanto da minha parte quanto a dele, são católicos”.
A conversa foi rápida. “O padre disse, com todas as letras, que se negava a fazer o batismo”, lembrou a mãe. “Ele disse que, uma vez que os pais não são católicos, tinha que deixar a criança crescer e escolher o que ela quer”, conta Cláudia Carnacini, 57 anos, que seria uma das madrinhas e que acompanhou a conversa. “Não permiti que ele argumentasse. Eu me levantei com minha filha e minha família e saí da igreja”, afirmou Jucinara.
Com a repercussão do relato de Rodrigo no Facebook, a reportagem de O Nacional entrou em contato com a família. Na conversa, Jucinara disse que não era espírita. “Sou católica e me considero católica por nunca ter deixado de frequentar a Igreja”, comentou ela, devota de Nossa Senhora Aparecida. “Até meus 13 anos, eu frequentava a igreja todos os sábados ou domingos. Fiz a primeira comunhão, pré-crisma, crisma. Depois continuei indo à igreja, mas não com a mesma frequência. Sempre achei importante”, acrescentou.
Diante do impasse, duas opções foram sugeridas à mãe. “Um padre amigo da família se ofereceu para fazer o batizado em outra igreja, também católica”, contou Jucinara, que recusou a ideia. A segunda foi para que ela levasse Leona para ser batizada em outra instituição. “Eu disse que não, porque não conhecia essa igreja. A minha igreja é a Católica, sei falar dos ensinamentos da Igreja Católica. No momento que eu precisei, ela fechou as portas para mim. Então, foi uma decepção muito grande”. A questão, no entanto, não muda a crença dela. “A minha fé em Deus, em Jesus, no que eu acredito que é verdade, é uma coisa, a instituição Igreja Católica, outra”, pontuou.
Depois da negativa que recebeu, Jucinara afirmou ter desistido da ideia por medo “de voltar e ser rejeitada”. “Se ela [Leona] quiser ser batizada quando crescer, não tem problema, vou estar ao lado dela. Agora é uma coisa que agora não me interessa mais”.
“Ela não me disse que era católica”, diz o padre
O padre Ari Antônio dos Reis confirma a história e disse que seguiu as regras da instituição. “A orientação que nós temos é batizar crianças na Igreja Católica se os pais são católicos e se eles se comprometerem a educar a criança na fé católica”, explicou. “Quando a criança é apresentada à igreja, seja católica ou evangélica, é porque os pais acreditam e que a criança vai ser educada naquela igreja e os pais vão contribuir com isso”.
O padre afirma que, em nenhum momento, durante o encontro com o casal, foi informado de que a mãe, Jucinara, era católica. “Esse casal que me procurou é espírita, ao menos foi o que me disseram que são”. Ao receber a informação pela reportagem de ON, o padre disse que havia sido “induzido ao erro”. “O código de direito canônico diz que, se um dos pais é católico e se compromete a educar o filho na fé católica, eu não poderia negar o batismo”, disse. “Eu estaria errado se negasse. Ela disse para vocês que era católica, mas para mim não. Essa informação ela não me deu. Ela me disse que era espírita assim como o companheiro”.
Ele disse que tentou, sem sucesso, dialogar com o casal e madrinha no dia do encontro. “Quando eu comecei a argumentar por que eu estava negando [o batismo], porque eu tenho que argumentar, porque não posso apenas dizer não, eles saíram da sala”. Segundo ele, a ideia era explicar que, naquela situação, em que os pais não eram católicos, “o ideal seria deixar a criança crescer para que ela fizesse a opção da crença religiosa dela”.
O padre disse que considera “contraditório” batizar a criança numa igreja na qual o casal não professa a fé. “O batizado, para a Igreja Católica, significa a criança que se torna pertencente àquela igreja. Os pais, como a criança é pequena, têm que se comprometer a educar a criança na fé católica”, explicou. “Dentro dos nossos princípios, batizar para homenagear o pai e a mãe [no caso, os avós de Leona] não tem sentido nenhum, não é lógico”, finalizou o padre.