Quando Michel Temer, presidente interino, anunciou a extinção do Ministério da Cultura houve muitas manifestações e questionamentos, a ponto de o mesmo recuar da decisão. Percebemos que dois pontos de vista avaliaram a questão. O primeiro, mais econômico, pois há a necessidade de reduzir gastos e por isso precisa ser extinto. A segunda visão ressalta a dimensão cultural e artística, que é integrante na condição humana. Por isso, é preciso investir em manifestações e expressões artísticas, formar e desenvolver as habilidades de quem as possui. A qualidade de vida de um povo não se mede somente pela abundância material, mas pelo desenvolvimento integral do ser humano. O ser humano necessita daquilo que é belo e harmônico. Um povo sem belas manifestações artísticas é deplorável.
A solenidade religiosa de Corpus Christi celebrada pelos católicos para fazer memória dos gestos e das palavras de Jesus Cristo, especialmente a instituição do Sacramento da Eucaristia, vem acompanhada de manifestações artísticas. São manifestações e obras em forma de tapetes coloridos que acontecem em muitíssimos lugares por este Brasil afora.
Pessoas movidas pela fé e voluntárias dedicam horas para fazerem belas obras de arte com somente um interesse: homenagear, embelezar, agradecer, solenizar Cristo Eucarístico. Pessoas anônimas, de todas as idades, vão a lugares públicos para expressar, em forma de arte, os mais profundos sentimentos. Certamente, a maioria delas se dedicam a fazer algo desta natureza somente neste dia do ano.
Avenidas e ruas, de asfalto ou pedra, onde diariamente circulam carros apressados cedem espaço para artistas anônimos e desenhos coloridos. Os tapetes e os desenhos retratam principalmente motivos religiosos relacionados com a festa; mas outros trazem mensagens de paz, de esperança e amor. Outros são arte pela arte. Ajudam a educar e a sensibilizar as pessoas. Em meio a tantas e trágicas notícias de mortes que pintam uma vida sem brilho e sem cor, brota da pavimentação monocromática o colorido que enche os olhos com belas e serenas imagens.
Se olharmos estes trabalhos sob uma ótica materialista, utilitarista ou econômica, ficamos no prejuízo. Nesta ótica, obras de arte que duram apenas algumas horas, talvez alguns dias, e não serão comercializadas, não têm valor. Mas do ponto de vista da formação integral do ser humano, ressaltando o artístico e o religioso, têm um valor incalculável. Pois temos na confecção delas trabalho voluntário, comunitário, gratuito; além de desenvolver dons artísticos. Nesta ótica não restam dúvidas que é preciso aplaudir tais iniciativas e desejar que continuem embelezando as cidades e o mundo.
Dom Rodolfo Luis Weber
Arcebispo de Passo Fundo
27 de maio de 2016