Verificar a qualidade das águas e a saúde dos peixes é uma necessidade da pesquisa nacional. A possibilidade de estudar o modo como os peixes estão reagindo à exposição a micro-organismos patogênicos presentes na água surge como uma importante ferramenta para monitorar a saúde desses animais. Para as espécies nativas de peixes do Brasil, esse trabalho ainda não era possível devido à falta de reagentes específicos. Com o objetivo de sanar essa lacuna e com um trabalho inédito no Brasil, a Universidade de Passo Fundo (UPF), por meio do Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação (PPGBioexp), desenvolveu um kit de diagnóstico para detectar anticorpos em peixes.
A espécie utilizada foi o Jundiá, peixe comum na região e em toda a América do Sul. De acordo com o professor Dr. Luiz Carlos Kreutz, coordenador do Programa de Pós-Graduação e da pesquisa, o primeiro passo para resolver essa questão foi purificar a imunoglobulina, ou seja, o anticorpo presente no sangue do jundiá. Depois disso, o anticorpo do peixe foi injetado em coelhos para que fosse produzido o que é chamado de anticorpo de coelho – anti-anticorpo de peixe. “Com esse anticorpo anti-imunoglobulina de jundiá podemos avaliar, por exemplo, se um peixe presente em um determinado ambiente foi exposto a determinados patógenos, ou verificar se produtos químicos utilizados em lavouras, como o atrazine ou glifosato, bastante encontrados em nossas águas, interferem na capacidade do jundiá em montar uma resposta imunológica adequada, e se defender de possíveis infecções, da mesma forma do que um peixe que está em uma água mais limpa”, explica.
Kreutz pontua também que existem hoje vacinas para peixes, mas que os pesquisadores precisam ter certeza da eficácia dessas vacinas na indução da imunidade. Para isso, o kit desenvolvido pela Universidade é fundamental.
Diversidade de espécies
Segundo o professor, uma das grandes dificuldades encontradas nessa área é a questão da diversidade de espécies de peixes e, por consequência, os vários sistemas imunológicos para serem estudados. Diferente dos bovinos, por exemplo, que tem uma só espécie, os peixes constituem milhares de espécies e, portanto, possuem características peculiares. “Cada espécie tem suas particularidades e é diferente: uma carpa é diferente de um jundiá, que é diferente de uma traíra. Então, se não tivermos reagentes para cada uma dessas espécies, não conseguimos estudá-las”, ressalta.
O estudo teve início em 2011, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Hoje, a pesquisa já rendeu dissertações, além de artigos aceitos para publicação em revistas de grande impacto.
Crescimento da pesquisa na UPF e o futuro
Com o trabalho, os pesquisadores estão aptos a medir a resposta imunológica dos peixes, mostrando o crescimento da pesquisa institucional, o aumento das publicações e a entrada no cenário internacional. E, mais importante ainda, demostra o domínio de tecnologias necessárias para a criação de insumos biotecnológicos.
O envolvimento dos alunos da iniciação científica e dos alunos do mestrado em Bioexperimentação também fortalece a interação e permite a troca de conhecimento em várias fases de aprendizado. Conforme Kreutz, o trabalho já é uma ferramenta utilizada em vários outros projetos, estudando aspectos em peixes que antes eram estudados apenas em camundongos.
Na opinião do professor, uma pergunta foi fundamental para impulsionar o estudo: o que nós queremos daqui a 5 ou 10 anos? A resposta, para ele, é a prática. “Vamos esperar que outros façam os caminhos ou vamos nós abrir esses espaços? Daqui a algum tempo, vamos precisar dessa ferramenta para outras espécies e hoje somos capazes de oferecê-la. Somos um grupo que domina essa tecnologia e que é capaz de produzir um kit para diagnosticar possíveis doenças futuras, nos colocando em uma posição bastante privilegiada na comunidade científica”, ressalta, lembrando que pesquisadores de outras universidades já solicitaram colaboração para o estudo dos mecanismos de defesa dos peixes e enviaram amostras para a UPF para que a análise seja feita.
Programa com inscrições abertas
O Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação está com inscrições abertas até 10 de junho. Com caráter interdisciplinar, o mestrado permitirá que egressos de diversas áreas do conhecimento exercitem a experimentação científica em conformidade com as linhas de pesquisa do Programa. A bioexperimentação permitirá o desenvolvimento de pesquisas sob orientação e critérios científicos, e a qualificação de atividades vinculadas à docência, à pesquisa, à prestação de serviços ou ao setor produtivo.
As inscrições podem ser feitas no site www.upf.br/pos. Informações no site www.upf.br/ppgbioexperimentacao.