Epílogo

Aos nascidos entre os anos 1950-1960 ficou marcante a figura do ator David Jansen no seriado O Fugitivo que, depois, seria extraordinariamente revisado por Harrisson Ford no cinema. Foi desse seriado que conheci a palavra Epílogo. A morte de Cassius Clay escancara mais uma vez a tragédia silenciosa a que estamos submetidos, ao epílogo que se aproxima. Minha turma vai se juntar lá, em algum lugar e fomos gradativamente sendo abandonados pelos Beatles, Elvis, Raul; por Chaplin, Chico Anísio e Cantinflas (Mário Moreno, quem lembra?); por Steve McQueen, Lee Marvin, Mário Lago, Sergio Cardoso, Carlos Zara... As referências foram se retirando, os seres que ajudaram a moldar nossas consciências, as pessoas que queríamos imitar. Guardei com carinho uma coleção quase inteira de Ken Parker em que quero surpreender meu irmão Luís Carlos. Lembro quando comprávamos juntos uma coletânea da Abril que constava Gente Como a Gente, O Poderoso Chefão, O Sol por Testemunha, Nada de Novo no Front... nessa época começamos a comprar Ken Parker, o herói calcado em Robert Redford. Tempo legal que passou, também.
Epilogo é também constatado quando percebemos a desativação dos points de nossa turma. Aquarius, Roda Viva, Bahamas, Antonius, Casablanca, Parole, Carlitos, Recanto Nativo, Bier Park, Wings, Butterfly... Foi também o Redsburger, Gageiro, Cantina Nápoli, Maracanã, Magro, Lago, Amadeu, Zamprogna, Papillon... Que dizer da inesquecível Cacimba, Urso Branco, Ladeira, Boite do Juvenil e Caixeiral, tardes românticas do Centro Social. Saudades do Impacto e Itamone, saudades dos Invencíveis e os Dyferentes?
Mas, tudo tem seu tempo, tudo passa, tudo é célere. A estupenda Passarim de Tom Jobim, plastificada na série O Tempo e o Vento em que mostram as colinas do Rio Grande, as mesmas que meus olhos contemplam quando vou à granja de meus familiares, dão-me pequena noção do imponderável diante da marcha da vida como demonstrou meu conterrâneo Érico Veríssimo.
Resta pouco para os de minha geração. Ainda perseverantes há Edu do Boka, há Leonardo do Natus para que a gente se agarre na essência daquilo que nos pertenceu na juventude, a sensação do momentâneo desapego à vida material e ao futuro, o viver o momento pelo momento, a leveza da vida simples marcada pelo grande encontro dos amigos. Passo Fundo, às vezes, parece-me outra cidade, que nada substancie o que marcou minha geração. O tempo subtrai e o vento varre de nós as pessoas e os lugares, é natural, é o epílogo que vai acontecer para todos nós.