Quando os leitos do Albergue Municipal ficam lotados só pode ser um sinal: está realmente fazendo muito frio. Na madrugada de quinta para sexta-feira (9) todos os 29 lugares – 20 masculinos e nove femininos – estavam ocupados, como afirmou o diretor da entidade, Eduardo de Mello Camargo. “Praticamente 50% das pessoas que recebemos no albergue chegam ali de forma espontânea. Os outros 50% são provenientes de outras entidades, através de encaminhamento, e de abordagens dos agentes sociais nas ruas da cidade”, conta. E a procura, que já é grande, deve ser ainda maior nos próximos dias. De acordo com o observador meteorológico da Embrapa Trigo, Ivegndonei Sampaio, o frio não parece querer ficar longe da região sul do país.
A previsão é que neste sábado (11), os termômetros não passem da máxima dos 10ºC – com mínima de 0ºC. No domingo, Dia dos Namorados, está previsto um leve acréscimo na temperatura: mínima de 2ºC e, no máximo, 12ºC. Mas o sol ajuda: o final de semana conta com céu aberto, que só deve ficar nublado a partir de segunda-feira (13), quando a temperatura varia entre 1ºC e 14ºC. “O clima ameno retorna na terça, quando os termômetros podem marcar até 14ºC. De quarta-feira em diante, a possibilidade é de chuva”, comenta Sampaio. Dependendo dos próximos dias, estes índices podem fazer com que este mês de junho seja o mais frio dos anos 2000. “Em junho de 2012 registramos seis geadas e duas temperaturas negativas. Neste ano já estamos com uma temperatura negativa e quatro geadas em 10 dias”, compara. Outro aspecto de relevância é que a temperatura média do mês – 12,9ºC – está menor em 2016: 7,4ºC; 5,5ºC abaixo da média. “Provavelmente se continuar geada neste final de semana podemos dizer que junho foi o mês mais frio desde a virada do milênio”, diz Sampaio.
Por outro lado, o mês de maio já é tido como o mais frio em 10 anos. “Não tivemos sequer o tradicional veranico, que é quase um pequeno verão dentro do outono”. Registro de tanto frio assim só há mais de 20 anos: em 1987 e 1990 foram registradas nove e oito geadas, respectivamente. Mas isso não significa necessariamente que o inverno tenha dias com frio tão intenso. “Na verdade é o outono que está sendo muito frio. Se o fim do ciclo do El Niño se confirmar podemos ter um inverno mais frio e seco, nada parecido com o dos últimos três anos, quando choveu acima da média durante toda a estação”, explica Sampaio.
A neve propriamente dita, no entanto, não deve chegar em Passo Fundo. A região contará com chuva congelada ou, no máximo, neve granular – partículas muito pequenas e opacas de gelo, também conhecidas como a 'fórmula sólida de chuvisco', que caem em quantidades muito menores que a neve original. “Este quadro só pode mudar se chover um pouco na madrugada de sábado, mas não temos previsão que isso aconteça. A neve cai na faixa leste do estado, começando em Rio Grande até a serra gaúcha”, explica Sampaio. O frio seco, portanto, continua. Ele é proveniente de uma massa de ar de origem polar, que segue com intensidade por todo Rio Grande do Sul e deve continuar na região, pelo menos, até a próxima quarta-feira (15).
Temperatura oficial x sensação térmica
O relógio marca 15h, faz 11ºC, o vento está a 10 m/s e você, leitor, está posicionado exatamente no cruzamento da Avenida Brasil com a Sete de Setembro: sua sensação térmica, nesse momento hipotético, é de 4ºC. Isso acontece por causa do vento: quanto mais forte estiver, mais calor ele tira do corpo, o que acaba por aumentar a sensação de frio. Quem calcula esta informação é o anemógrafo, que registra como está o tempo de 10 em 10 minutos. Mas para calcular a temperatura oficial são necessários outros equipamentos. Para saber qual a temperatura máxima ou mínima do dia é preciso, como explica Sampaio, um abrigo meteorológico em campo aberto, com distância mínima de 50 metros de qualquer árvore ou construção. A temperatura vai ser calculada em termômetros específicos posicionados 1,50m acima do solo. “Neste lugar circula ar normalmente e cada termômetro possui a sua função específica. Eles são estabelecidos conforme a Organização Internacional Meteorológica, composta por 200 países, o que confere a temperatura oficial”, esclarece.
Por isso é importante saber que esta temperatura sempre vai ser diferente dos termômetros dos relógios digitais, instalados nas ruas. “Os pesquisadores só usam termômetros de mercúrio, porque são exatos, o risco de erro é bem menor que os das ruas, com o sensor. Em Passo Fundo temos um termômetro de mercúrio desde 1940”, conta Sampaio. Essa diferença existe porque o contexto de localização do relógio de rua pode ser – e frequentemente é – significativo na influência do resultado da temperatura. “Você chega na Praça Marechal Floriano, por exemplo, e ali tem o termômetro marcando tal temperatura. Enquanto isso os carros que passam pela região expelem monóxido de carbono pelas descargas, o que já aumenta a temperatura registrada. Em todo o RS a menor temperatura foi de -1ºC, em Vacaria. O resultado de -3ºC, por exemplo, é do sensor do relógio, mas não quer dizer que aquela seja a temperatura real”, destaca. A finalidade dele, portanto, é para ser usado como referência – mas nada além disso. “Se você colocar 10 termômetros em 10 bairros, cada um vai registrar uma temperatura diferente. Isso acontece porque cada lugar tem uma característica própria – alguns têm mais árvores, outros mais prédios, outros mais empresas. Tudo isso influencia”, explica. Até o momento, a menor temperatura registrada em Passo Fundo foi de -0,3ºC.