OPINIÃO

A política do lame duck

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A expressão lame duck (pato manco) significa, entre outras coisas, uma pessoa ineficiente. No jargão da política norte-americana também quer dizer alguém que não conseguiu se reeleger e ainda continua no cargo. Pode ser um deputado, um senador, um governador ou o presidente. O humor dos brasileiros e brasileiras, desde as manifestações de junho de 2013 vem se alterando. Fatos concretos sustentam esta mudança de humor. Nem tudo foi fabricado pela imprensa ou pela oposição (por que nem essa existe no Brasil). Não há conspirações nem conjugação dos astros contra o governo, quase 12 milhões de pessoas entraram no time dos sem-emprego, a inflação pulou para 11%, os juros subiram e os cintos foram apertados. Afinal, a contabilidade criativa foi invenção do governo do Partido dos Trabalhadores (PT).
Com o objetivo de sinalizar para o mercado uma política econômica, capaz de colocar o país nos trilhos do equilíbrio fiscal e substituir os efeitos da 'nova matriz econômica' pelo velho e bom tripé macroeconômico: responsabilidade fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante. O novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, sublinhou que a principal missão da autoridade monetária é assegurar a estabilidade, perseguindo uma inflação baixa e estável, e exaltou o que ele classificou de "velho e bom" tripé macroeconômico: câmbio flutuante, responsabilidade com as contas públicas e sistema de metas de inflação.
“É importante destacar que a eficiência da política monetária [definição dos juros para conter a inflação] será tanto maior quanto bem forem sucedidos o esforços na implementação das reformas e da recuperação da responsabilidade fiscal", disse Goldfajn durante cerimônia de transmissão do cargo de presidente do BC, na sede da instituição, em Brasília. O fato é que a recessão ajuda da pior forma combater a tendência de jogar os preços para cima. Por exemplo, quando a inflação está neste nível, de 8,2% em 12 meses, as empresas tentam garantir suas margens de lucro corrigindo produtos e contratos por um percentual acima da inflação corrente. Por causa da oscilação do câmbio, houve nos últimos tempos aumentos de custos de insumos e componentes importados.
Tudo isso alimenta o círculo vicioso que mantém a inflação em alta. As vendas de carros caíram 17% no primeiro trimestre, mas os preços aumentaram. Em outros produtos e serviços aconteceu o mesmo fenômeno. Neste ponto, a boa notícia foi a queda do dólar na semana anterior. Quem olhar para dentro do índice verá a história recente. O erro cometido pelo governo de reduzir os preços da energia de forma populista e eleitoreira está cobrando seu preço agora e quem paga o custo do erro é o próprio consumidor.
Diariamente, todo o ano de 2015, o governo deu motivo de desgosto aos brasileiros. Houve uma sucessão de números recordes ou históricos. A pior inflação de março em 20 anos, o maior rombo fiscal desde 1997, o crescimento forte da dívida pública, o aumento exponencial dos preços da energia, novos impostos e muitas notícias sobre o propinoduto descoberto na Petrobras.
Com tantas notícias ruins produzidas pelo governo na condução de suas políticas, a Presidente Dilma Roussef se tornou a figura caricata do “lame duck”, mesmo tendo sido reeleita em 2014. Ela já não inspira e não transmite a credibilidade necessária de que vá ter forças para retomar o mandato e tirar o país da crise política e econômica. Aquela personagem de mulher forte e determinada deu espaço para uma marionete manipulada por outras mãos.
Quanto à política econômica, mesmo que o ambiente continue tenso, algumas expectativas estão se invertendo, mesmo que seja no governo provisório de Michel Temer. A tendência nos investimentos pode estar iniciando a reversão. O indício agora veio de uma sondagem do FGV/Ibre. O Indicador de Intenção de Investimento da indústria teve a primeira alta desde o terceiro trimestre de 2013. O índice atingiu 82,5 pontos no período entre abril e junho, alta de 0,6 ponto. De acordo com o IBGE, o investimento cai há 10 trimestres consecutivos. Graças ao time dos sonhos montado por Temer, na condução da economia brasileira.
Resumindo, não é mais de interesse da classe política aprofundar a crise. Uma nova sessão do teatro começou: os verdadeiros atores, vestidos de preto, sob um fundo mais negro ainda, manipulam as marionetes do espetáculo, Dilma cedeu e a fila andou, veja Cunha que está por um fio. O tempo urge e o espetáculo segue... E agora, com menos plateia bradando, pois tanto direita quanto esquerda viraram novamente expectadores, o PT sangra, o povo paga a conta e o PMDB é quem lucra.

Adriano José da Silva
Professor Coordenador da Escola de Administração da IMED.

 

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