Depois que deixou a UFSM, em 1974, apesar os reveses que sofreu em São Paulo, primeiro com a morte do marido, Artur Primavesi, em 1977, e depois com a perda filho mais novo, o médico Artur Primavesi Filho, em 1986, Ana Maria Primavesi ainda tinha muito com que contribuir para a agricultura brasileira, com destaque em agroecologia; como efetivamente fez.
Em 1977, Ana Maria Primavesi aproximou-se do Movimento de Agricultura Alternativa, que, na ocasião, mesmo enfrentando a oposição de boa parte da classe agronômica, era capitaneado pela direção da Associação de Engenheiros-Agrônomos do Estado de São Paulo, culminando essa iniciativa, em1989, na criação da Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo. Nesse período, Ana Maria Primavesi também se dedicou a concluir aquela que reconhecidamente é a sua obra magna: o livro O Manejo Ecológico do Solo.
A obra O Manejo Ecológico do Solo: A Agricultura em Regiões Tropicais, mais conhecida pelo titulo resumido Manejo Ecológico do Solo, inicialmente, fora escrita com a intenção de ser publicada pela Editora Agronômica Ceres, uma das mais importantes casas editoriais na área de Ciências Agrárias no País. A Editora Ceres relutava em publicar o livro. Um parecer sobre a obra foi solicitado a professores da ESALQ/USP. O relatório recebido foi arrasador. De qualquer forma, Ana Maria Primavesi não desistiu do livro. Ao contemplar as sugestões dos revisores, o livro passou das originalmente 250 páginas para mais de 500 páginas. A Editora Ceres não se decidia pela publicação ou não do livro. Nesse interim, em 1980, surgiu o interesse da Editora Nobel, que buscava um livro sobre agricultura. A Editora Ceres recebeu um ultimato e desistiu da publicação. O livro acabou saindo pela Editora Nobel, ganhou lançamento na Associação de Engenheiros-Agrônomos do Estado de São Paulo, e, apesar das críticas, foi um sucesso imediato, vendendo três edições completas em seis meses.
A visão de Ana Maria Primavesi sobre o solo, como uma entidade viva, ao apregoar que os solos tropicais, diferentemente dos temperados, não precisavam ser revolvidos pela a aração para se tornarem produtivos, ainda que não goze desse reconhecimento, ajudou na construção de um dos princípios basilares do atual Sistema Plantio Direto: o revolvimento do solo apenas na linha de semeadura.
Em 1980, empregando parte da indenização recebida do governo alemão pelas perdas materiais sofridas por Artur Primavesi por ocasião da Segunda Guerra Mundial, Ana Maria Primavesi comprou uma fazenda em Itaí, no interior de São Paulo. Nessa propriedade de 96,8 ha ela construiu uma casa, plantou árvores e cultivou o solo segundo os princípios que acreditava, transformando aquelas terras em uma propriedade referência em sistemas sustentáveis. Ali, Ana Primavesi, mesmo viajando muito, viveu por 32 anos, até que, no final de 2011, aos 91 anos, deixou Itaí de vez para voltar a São Paulo.
Nunca faltaram criticas e nem o merecido reconhecimento ao legado deixado pro Ana Primavesi à agricultura brasileira e mundial. Na Alemanha, em 2012, recebeu das mãos de Vandana Shiva o One World Award (OWA), da International Federation of Organic Agriculture (IFOAM) e, em 2013, foi aplaudida em pé por mais de cinco minutos no Terceiro Encontro Internacional de Agroecologia, realizado em Botucatu/SP.
Atualmente, aos 96 anos, Ana Primavesi ainda continua produzindo intelectualmente. Em 2014, pela Editora Nobel, saiu o livro Pergunte ao solo e às raízes: uma análise do solo tropical e mais de 70 casos resolvidos pela agroecologia. E, em 2016, veio a lume a biografia Ana Maria Primavesi: Histórias de Vida e Agroecologia; que começou a ser escrita em 2010, pela geógrafa Virgínia Knabben. O livro foi publicado pela Editora Expressão Popular, como parte da série Ana Primavesi, criada especialmente em sua homenagem. Por essa série, saiu, este ano também, o mais recente livro de Ana Primavesi: A convenção dos Ventos, um retrato da Agroecologia em contos.
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