O inverno, que inicia às 19h34 de segunda-feira (20), deve registrar temperaturas mais frias que as ocorridas nos últimos anos. A transição entre os fenômenos de grande escala que atuam sobre o clima, o El Niño e a La Niña, marcará a mudança. O El Niño deve encerrar seu ciclo nesses primeiros meses de inverno. Segundo o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, é bem provável que permaneça uma condição de neutralidade nas águas do Oceano Pacífico e, a partir da primavera, as chances são bem acentuadas de que se configure um evento La Niña. “Em função disso, nós teremos uma condição de inverno e de primavera, nesse ano de 2016, com temperaturas mais amenas, comparativamente com o ano de 2015, quando tivemos a influência do El Niño”, explica Cunha. O que se pode esperar para o inverno que estará começando nessa segunda-feira é uma condição de menor quantidade de chuva e temperaturas mais baixas e, também, como já presenciado no final o outono, uma maior frequência de entradas de ar polar, em especial depois das chuvas, com predomínio de geada.
Final de semana
O final de semana será marcado pela nebulosidade em Passo Fundo. Após a frente fria que chegou à região na quinta-feira e causou chuva, um ar frio e seco chega e deixa o tempo mais firme no sábado e no domingo, apesar da nebulosidade em ambos os dias. As informações são do observador meteorológico da Embrapa Trigo/Inmet, Ivegndonei Sampaio. Conforme Sampaio, a área de instabilidade foi responsável pela precipitação de 16mm, que representam 12% da média para o mês que é de 134mm. Na primeira quinzena de junho não foi registrada chuva. O ar frio e seco que chegou à região na sexta-feira já foi responsável pelo término da chuva e pelo declínio das temperaturas.
O sábado se inicia com formação de nevoeiro e o dia deve ser parcialmente nublado a nublado com temperaturas entre 8ºC e 18ºC. O domingo também fica parcialmente a nublado com temperatura mínima de 5ºC e máxima de 18ºC, com possibilidade de sol em alguns momentos. A segunda-feira inicia com possibilidade de geada ao amanhecer. A mínima fica próxima dos 3ºC e a máxima dos 18ºC com temperaturas em elevação no decorrer do período. O inverno inicia às 19h34 de segunda. A terça-feira, primeiro dia da nova estação, pode ter registro de chuva devido à chegada de uma frente fria. As temperaturas variam entre 8ºC e 16ºC.
Fim do outono
O outono se encerra marcado pela ocorrência de uma massa de ar de origem polar que foi a mais intensa para o período dos últimos 16 anos. A estação se encerrou com o registro de 13 geadas, sendo que sete apenas no mês de junho. As temperaturas mínimas também se destacaram. No último final de semana os termômetros da Estação Meteorológica da Embrapa Trigo/Inmet registraram mínima de -2,3ºC no sábado e de -2,6ºC no domingo, a mais baixa desde junho de 1980, quando ocorreu -2,5C.
Frentes frias
Conforme Gilberto, o clima do Sul do Brasil, no período de inverno, é marcado principalmente pelas chamadas passagens de frentes frias, que são encontros de grandes massas de ar que se deslocam lentamente e condicionam condições de clima em grande escala. “Elas são responsáveis por chuvas e têm um ciclo que varia entre sete a dez dias. E consequentemente, depois das frentes frias, o comum no período de inverno, em anos como este, de forma mais intensa, é a entrada de massas de ar frio seco, com pouca nebulosidade e, consequentemente, as temperaturas podem baixar acentuadamente com ocorrência de eventos de geada”, aponta. A partir de agora, as massas de ar polar podem ser ainda mais intensas que as registradas nas últimas semanas. “Nós recém estamos entrando no inverno e quanto mais adentramos na estação, mais frias e mais intensas são essas massas de ar frio, com temperaturas mais baixas. Nós podemos esperar sim a ocorrência de temperaturas mais baixas ainda no mês de junho, julho e agosto do que nós vivenciamos no mês de maio”.
Agricultura
Essa condição climática, com exceção das geadas, é favorável para as culturas de inverno. As baixas temperaturas potencializam o rendimento dos cultivos de inverno e a diminuição da umidade, que cria um ambiente menos propício ao desenvolvimento de doenças, também traz benefícios. “Inverno e primavera com temperaturas mais baixas e menor quantidade de umidade, criam uma condição mais favorável para os cultivos como trigo, cevada e canola”. Segundo Cunha, as geadas nesse momento são mais preocupantes na cultura da canola, porque acabam ocasionando uma grande mortalidade de plantas, que são mais sensíveis nessa fase inicial do ciclo. “Já com os cereais de inverno, a preocupação é com as geadas tardias, no mês de setembro, quando a fase crítica acaba sendo no período da floração, do espigamento desses cultivos”. No caso das forrageiras, a geada não preocupa tanto, mas acaba sendo um pouco prejudicial, já que diminui a qualidade dos pastos para os animais. As hortaliças também acabam sofrendo com a condição. Por outro lado, lembra o agrometeorologista, as geadas desempenham um papel ecológico, no controle de plantas daninhas remanescentes do verão, diminuição do ciclo de pragas e diminuição da suscetibilidade de doenças, especialmente fúngicas. “É importante a diminuição dos riscos por escalonamento das épocas de semeadura, assim como adotar uma medida de proteção de plantas contra a variabilidade climática e sempre que possível a adesão ao seguro agrícola, uma das medidas protetivas”, recomenda.
