A celebração do nascimento de São João tem a marca da alegria. A liturgia da Igreja recorda que João é um dom gratuito de Deus. O nome João significa “Deus se mostrou misericordioso”. Isto se mostra de diversas maneiras: a idade avançada de seus pais, ninguém na família tinha este nome e seu pai volta a falar quando dá o nome ao filho. Mais tarde, São João irá preparar e anunciar a presença de Jesus Cristo no meio de nós, uma presença que marca a história da humanidade. Além da festa religiosa, temos muitas festas juninas inspiradas em São João, cuja tônica é a simplicidade, a alegria e o humor.
A festa de São João provoca uma reflexão sobre o modo como se olha e se avalia a vida e o mundo. Cotidianamente, ocupa-se muito tempo para comentar as notícias de violência, corrupção, injustiças, polêmicas. Isto está presente na boca das pessoas e nos meios de comunicação. Isto é notícia e desperta interesse. Numa análise mais profunda da realidade e da vida percebe-se que esta é uma parte da verdade. Ver, julgar, criticar o que está errado é necessário. O profetismo de São João foi marcado por denúncias e um forte apelo à conversão. Foi um profeta incômodo e por isso foi martirizado.
Mas também foi o profeta que apontou em meio às realidades que denunciava uma luz ainda desconhecida, uma boa notícia, Jesus Cristo. Aquele que se preocupa com os pobres, que traz liberdade aos oprimidos, anuncia a graça, vive na verdade, prega a justiça, o amor e a paz. Convoca as pessoas a viverem fraternalmente e se amarem.
É só olhar ao nosso redor e perceberemos uma quantidade de gestos de amor, de atenção, de carinho. Nem é preciso fazer muito esforço. Uma infinidade de gestos individuais e institucionais de cuidado com a vida das pessoas, do meio ambiente, dos animais, acontecem permanentemente. Estas ações não requerem, nem necessitam de publicidade. Olhando na perspectiva cristã, vale a recomendação de Cristo, que a tua mão esquerda não saiba o bem que fez a mão direita.
Ver o bem existente é uma questão de justiça para com as pessoas e as instituições. O reconhecimento gera gratidão, gera emoção por saber que uma pessoa fez uma boa ação, um auxílio, um favor a alguém. Gratidão é uma espécie de dívida, é querer agradecer a outra pessoa por ter feito algo muito benéfico para alguém.
Ver e reconhecer o bem gera otimismo que é necessário para vivermos com as imperfeições nossas, dos outros e das instituições. O otimismo estimula à ação. É um remédio contra o azedume que contamina as relações humanas e pinta o mundo com cores falsas. Se as notícias do mal são replicadas e amplificadas, com muito mais razão as notícias do bem devem ser comunicadas, repetidas e amplificadas.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
24 de junho de 2016