Por mais incrível que possa parecer, a maioria das pessoassupostamente cultas e ditas inteligentes, quando confrontada com o questionamento sobre a origem das espécies, não consegue elaborar uma resposta minimamente robusta em termos de argumentação científica usada. E olha que são decorridos 158 anos desde que saiu publicada, em 1859, a primeira edição da obra seminal de Charles Darwin, A Origem das Espécies, que deu sustentação à teoria da evolução. Então, qual a razão disso? O motivo, aparentemente, é que, mesmo tendo passado tanto tempo, evolução não é algo facilmente perceptível e que, além de não haver consenso, ainda persistir um embate entre os que defendem que as novas espécies surgem a partir de mudanças contínuas e constantes (em um processo evolutivo permanente) e aqueles que são adeptos de mudanças rápidas e ocasionais. Ou, quando não, alternativamente, dão o ar das suas graças os defensores do criacionismo ou do seu avatar contemporâneo, a teoria do desígnio inteligente.
Há, inquestionavelmente, uma raiz social bastante forte no que chamamos de percepção da mudança evolutiva. E essa influência social, reconhecidamente, é responsável pelo excesso de confiança que depositamos na nossa percepção de verdade; como bem frisou Stephen Jay Gould no clássico ensaio “Lucy na Terra em Estase”. Insistimos, segundo Gould, em ver a mudança como algo intrínseco e contínuo, e não como algo incomum e passageiro. Ou seja,queremos conceitualizara mudança como uma forma própria de constância e considerar a alteração constante um estado normal, especialmente em sistemas que sofrem evolução biológica. Todavia, há teorias de mudança que também são consistentes com a concepção de um universo movido por alterações. A estabilidade pode reinar a maior parte do tempo e a mudança ser um acontecimento raro, geralmente de proporções gigantescas, que só ocorre quando um sistema sofre estresse além da sua capacidade de absorvê-lo sem modificações substanciais.
Para explicar o processo de especiação das linhagens biológicas na Terra, devemos lançar mão de teorias evolucionistas, que, de um lado, pregam o equilíbrio pontuado, e, de outro lado, usam a crença no gradualismo. Stephen Jay Gould, mesmo não se dizendo antagonista ferrenho da mudança gradual, defende que as mudanças “pontuadas” são as principais na natureza, destacando que a crença de que as mudanças contínuas são uma norma da natureza constitui o equívoco mais comum sobre a história da vida, decorrente de uma interpretação falsa da natureza da evolução. A base desse equívoco reside nas falácias de supor que evolução significa mudança e queestabilidade deve ser considerada a mais enigmática das anomalias.
Então, se pergunta: para onde caminha a evolução humana no futuro? E, se responde: por que devemos estar indo para algum lugar? Stephen Jay Gouldcostumava usar argumentos melhores para responder esse questionamento, destacando que tudo que chamamos de “civilização” foi erigido sem nenhuma modificação substancial, física ou cerebral, da espécie humana, que tem se mantido estável a dezenas de milhares de anos. E que a estabilidade é a norma e esperada para populações grandes, bem-sucedidas e geograficamente dispersas. A evolução tende a se concentrar nos eventos da especiação e ramificação, e estes geralmente ocorrem em populações pequenas e isoladas. E, como o homem, hoje, está presente em todos os cantos do mundo, com capacidade de acasalamento onde quer que esteja, o isolamento e a especiação, resultando em algum tipo de mudança evolutiva humana, pelo caminho natural, nos parece pouco provável.
Enfim, aqui estamos. E se, pela via evolutiva natural,quisermos sair dessa estase humana marcada pela frivolidade do mal (algo pior que a banalidade do mal, como frisou Hannah Harendt), parece que não nos resta outro caminho que a construção de uma Galápagos Espacial (e esperar alguns milhares de anos).
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