OPINIÃO

Poder

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O Brasil encara a crise das ideologias, a crise do pensamento político, colhe o fruto das revoluções, enfrenta novas concepções de ideias. A sociedade que está prestes a emergir necessita da produção do intelecto. No século XX, o século do morticínio, percebemos uma sociedade que cresceu em cima do trabalho e da produção. A partir de maio de 1968 estabelecemos a revolução do pensamento; depois, revolucionariamente derrubamos o Muro de Berlim e decretamos o fim da estatização da economia. O momento é: não aos grandes negócios, sim às grandes ideias.

Anteontem o grande lance era atenção aos produtos, trabalhávamos sobre ele, pensávamos como desenvolvê-lo: Ontem o filé era prestar atenção ao cliente (comprador) como atrair, como fidelizar; Hoje o negócio é a atenção absoluta aos valores. Nada prospera sem a atenção absoluta aos valores, prova é que aplaudimos a punição e execração pública, ainda incompleta, é claro, dos que desviam a rota da honestidade. Uma empresa bacana entrega o produto que f propagandeou, entrega dentro do prazo, realiza pós-venda, garante validade. Se quer concorrer em ambiente de globalização não há outra forma de comportamento. Os valores vêm das pessoas, as vendas são de pessoas jurídicas para seus pares mas, a negociação é encaminhada pelas pessoas físicas.

Um policial fica sem jeito ao perceber o meliante que prendera andar desenvolto pelas ruas; o professor fica desencantado ao perceber que sua aula merece pouca atenção dos alunos; o engenheiro desnorteia-se ao ver sua construção sem a manutenção devida; o músico entristece ao perceber que a turma não está a fim de ouvi-lo. O cidadão se pergunta o real valor de descontar o mísero salário que recebe para abastecer o imposto de renda; o cidadão passa a torcer para que seus filhos consigam habitar em outro país. O cidadão comum olha para o extrato bancário, para os carnês que já pagou e para os que ainda estão em andamento e se pergunta o que é a vida, afinal? Percebe-se ser um CPF cujo tempo se esgota, nada mais do que isso.

O eleitor brasileiro marcha celeremente da descrença ao abandono do interesse pela política. Política e poder, um abastecendo o outro, um mamando no  outro. Quem ali está deveria ser merecedor das nossas melhores expectativas, mas a turma está em outra esfera, a do enriquecimento fácil e aposentadoria precoce. Como virar o jogo, como estabelecer regramento absoluto para que não nos sintamos em abandono? Parece que o homem perdeu o rumo de se autodeliberar, parece que não conseguimos viver honestamente sem estarmos vigiados pelos grandes olhos do big-brother. Que tempos. 

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