A última compra da chefe de cozinha, Janaína Bottega, foi no fim de abril, para o Dia das Mães. “É tudo muito caro. E tem também o fator do frio, que deixa os valores lá no alto. Como o salário aumentou muito pouco, temos que segurar a vontade de gastar”, conta. Assim como a Janaína, o consumidor de modo geral gastou menos no primeiro semestre de 2016: é o que dizem os dados divulgados nessa terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a instituição, em maio deste ano o comércio varejista brasileiro teve o seu pior desempenho, totalizando o 14º resultado negativo consecutivo. Em comparação com o mesmo mês de 2015, a queda nas vendas foi de 9%. De acordo com a gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes, os números se posicionam em ritmo de queda desde o final de 2014, com acentuação neste ano. “Essa sequência de resultados negativos mostra que, ao longo de 2016, de janeiro a maio, o volume do varejo registrou uma queda de 7,3%, o que resulta na acentuação do ritmo de queda em comparação com o primeiro semestre de 2015”, explica. Em 2016, a queda nas vendas foi de 1% – a maior para o mês desde 2000. O recuo foi, nos primeiros meses do ano, de -7,3% e, nos últimos 12 meses, de -6,5%.
Ainda que estes índices tenham sido disseminados por todas as atividades, existem setores que os impulsionaram. “Podemos citar, principalmente, a atividade de imóveis, eletrodomésticos e também de uso doméstico, como cama, mesa e banho. Estas são compras que podem ser postergadas e dependem muito do crédito. Com a evolução dos juros, tudo tornou-se mais restritivo”, comenta Isabella, que acrescenta a influência da queda no setor supermercadista. “É um setor bastante pesado no agrupamento do varejo que, em relação a abril, manteve o mesmo patamar, mas em relação a maio do ano passado registrou queda de 5,6% – um impacto forte para o consumo”, destacou.
Ainda que não existam dados a nível local, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) afirma notar uma queda acentuada nas vendas do comércio varejista passo-fundense. “As vendas refletem o momento mercadológico e, principalmente, político do Brasil”, comenta o presidente da instituição, Adriano Sonda. Segundo ele, mesmo as campanhas como o Dia das Mães e Dia dos Namorados revelaram índices inferiores no comércio da cidade em comparação com outros anos. “Tivemos o frio que ajudou muito o desempenho dos lojistas que comercializam produtos como confecções pesadas e calçados, mas tivemos outros ramos que enfrentam sérias dificuldades e posso citar os bens duráveis, por exemplo”, pontuou.
Momento deve ser de prudência
A recomendação para empreendedores e varejistas é manter os pés no chão, defende Sonda. “Não é momento de aventuras e grandes riscos. Usar a criatividade para encontrar o equilíbrio da empresa e buscar o cliente certo, que tenha condições de cumprir com os pagamentos programados”, afirma. Como sugere, o varejista deve tentar renegociar suas dívidas e o aluguel para minimizar custos fixos. “Persistir não significa suicídio comercial a ponto de constituir dívidas impagáveis. Temos que saber o momento de recolher o time e tentar em momento mais favorável”, pontuou. Este momento, como aponta, também depende necessariamente de uma consultoria comercial e jurídica eficiente.