A formanda do curso de Engenharia Civil da Universidade de Passo Fundo (UPF) Larissa Scipioni Muniz, 22 anos, desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) voltado para a redução de alagamentos no meio urbano utilizando métodos não convencionais e mais sustentáveis. A pesquisa foi aplicada em três pontos de Passo Fundo, que costumam registrar alagamentos. A aluna concluiu que os métodos utilizados representam uma alternativa viável de ser aplicada em critérios de disponibilidade de espaço, redução de vazão e melhoria no sistema de drenagem urbana.
A urbanização desordenada e acelerada, registrada nas últimas décadas, trouxe consequências visíveis para os meios urbanos e acentuou a necessidade de soluções que busquem reduzir ou eliminar a série de impactos causados ao ambiente natural. Com a urbanização, a infiltração da água no solo diminui e o sistema de drenagem é modificado, aumentando a possibilidade de ocorrência de diversos problemas durante eventos de chuvas intensas e provocando grandes prejuízos para a população.
Em geral, para conter esses problemas de alagamentos são utilizadas as técnicas tradicionais de drenagem urbana, que, segundo a pesquisa feita pela aluna da UPF, transferem os problemas para a jusante (fluxo normal da água), visando apenas ao rápido escoamento da água pelas tubulações, e não possuem caráter sustentável ou ambiental. Conforme Larissa, as medidas de drenagem não convencionais, que trabalham junto com as técnicas tradicionais, focam nas melhorias da infiltração da água do escoamento superficial no solo e na sua retenção em reservatórios, por exemplo. “As técnicas não convencionais são técnicas que se opõem ao sistema tradicional de drenagem e são uma maneira mais ambientalista que visa minimizar os volumes e as frequências do escoamento, que tende a ser superior, devido à urbanização desordenada, podendo aumentar os riscos de alagamentos e inundações”, comenta Larissa.
Trincheiras de infiltração e reservatórios de retardo
Os métodos não convencionais utilizados pela acadêmica foram as trincheiras de infiltração e os reservatórios de retardo. Essas técnicas foram aplicadas em três bairros de Passo Fundo - Lucas Araújo, Vila Schell e Vila Luíza - que são locais que possuem histórico de problema de alagamento em alguns pontos quando ocorrem chuvas intensas, prejudicando o tráfego de pedestres e veículos.
As trincheiras de infiltração são escavações rasas com preenchimento granular (britas) que têm a finalidade de criar um armazenamento subterrâneo temporário, podendo também infiltrar a água precipitada. “Foi analisada a sua aplicabilidade em calçadas, de acordo com o espaço disponível e de acordo com o dimensionamento feito para as trincheiras”, explicou Larissa.
Já os reservatórios de retardo servem para armazenar temporariamente a água precipitada e foram dimensionados para o tamanho de um lote padrão. “Foram verificados os dimensionamentos dessas medidas e o quanto reduziriam na vazão de escoamento superficial. Concluiu-se que essas técnicas representam uma alternativa viável de ser aplicada em critérios de disponibilidade de espaço, redução de vazão e melhoria no sistema de drenagem urbana, porém, deve ser feita uma análise mais criteriosa da viabilidade econômica de aplicação”, constatou a aluna.
Conforme o orientador do trabalho, o professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura Vinícius Scortegagna, a questão dos alagamentos, cheias e enchentes é um problema que atinge muitos municípios brasileiros, portanto, é um tema muito atual. “O sistema de microdrenagem do município fica muito suscetível a chuvas intensas. Ou seja, quando temos uma chuva de intensidade maior, o sistema não comporta, porque o diâmetro das tubulações é menor do que deveria ou porque as tubulações estão obstruídas com resíduos sólidos urbanos, lançados indevidamente. As trincheiras de infiltração, por exemplo, que são uma espécie de reservatório subterrâneo, impedem que essa água chegue ao sistema ou retarda esse tempo de chegada, permitindo que o sistema libere a vazão que ele está transportando”, salientou o professor.
O professor ressalta ainda que o trabalho da acadêmica alcançou resultados positivos e a ideia é instigar novos alunos a pesquisarem sobre esse tema. “A Larissa chegou a soluções bem palpáveis. A ideia é que os próximos alunos repitam esse trabalho em outros pontos da cidade para comparar os resultados e comprovar que essa é uma solução viável”, destacou Scortegagna.