A leucemia linfocítica crônica (LLC) é a leucemia mais comum do adulto. Ela ocorre quando as células responsáveis pela defesa do nosso organismo (glóbulos brancos) passam a se multiplicar de forma desordenada e com desempenho de sua função comprometida. A doença gera um crescimento sem controle mais comumente dos linfócitos B maduros (um tipo de glóbulo branco), ao mesmo tempo que mantém produção de células normais. É isto que a diferencia das leucemias agudas, nas quais a produção de células normais na medula óssea é substituída por células doentes.
Na LLC, as células linfóides se acumulam na medula óssea, linfonodos, fígado, baço e, menos comumente em outros órgãos. A doença ocorre normalmente em indivíduos acima de 50 anos, com incidência progressiva com o passar dos anos, sendo mais comum em homens e raramente ocorre em indivíduos abaixo dos 40 anos. Não há uma causa conhecida para a LLC, apenas sabe-se que pode haver relação familiar.
Na maior parte das vezes o paciente não apresenta nenhum sinal ou sintoma, sendo a doença descoberta durante exames de rotina ou exames realizados por outro motivo. Desta forma, grande parte das pessoas acometidas está assintomática quando é encontrado aumento do número de linfócitos (linfocitose) no seu exame de sangue. Quando há sintomas, podem estar presentes: cansaço, falta de ar aos exercícios, perda de peso sem causa aparente, aumento de linfonodos (ínguas), suor noturno, infecções de repetição. O diagnóstico é realizado com a confirmação de linfocitose (acima de 5.000) no hemograma associado a realização de imunofenotipagem das células B, que evidencia padrão monoclonal, podendo este exame ser realizado no sangue periférico ou na medula óssea. O mielograma (aspirado de sangue da medula óssea) e a biópsia de medula óssea não são essenciais para o diagnóstico, mas são úteis para determinar o padrão de envolvimento medular pela doença, estando associados com o prognóstico. Em alguns casos pode ser indicada a biópsia de linfonodo aumentado. O diagnóstico diferencial é feito com as doenças que causam linfocitose: infecções virais, tuberculose, toxoplasmose, doenças auto-imunes, entre outras.
Diferente dos outros tipos de leucemia, na LLC muitos pacientes não precisam de tratamento. Neste grupo de pacientes se enquadram os indivíduos assintomáticos, com aumento pequeno das ínguas, sem anemia ou plaquetopenia e com poucas alterações em suas células. Porém, é importante ressaltar que o acompanhamento médico é fundamental, pois a doença pode necessitar tratamento durante seu seguimento. Quando o paciente necessita tratamento, as opções terapêuticas se baseiam em quimioterapia, imunoterapia, terapia alvo, radioterapia e, em casos selecionados, transplante de medula óssea. O tipo de tratamento varia de acordo com as condições clínicas do paciente, idade e comorbidades associadas. Vários medicamentos estão em estudo e melhorando cada vez mais as opções terapêuticas e a resposta apresentada.
A imunoterapia faz parte do tratamento, sendo que os anticorpos monoclonais (rituximab, ofatumumab, obinutuzumab, alentuzumab) tem papel muito importante no tratamento. A terapia de células alvo com ibrutinib tem emergido neste cenário atual, conseguindo atingir diretamente as células doentes, com indicação em alterações citogenéticas específicas ou na doença refratária ao tratamento convencional.
Desta forma, a LLC é uma doença com apresentação clínica variável e indicações terapêuticas específicas, sendo acompanhamento médico essencial para o adequado manejo e sucesso terapêutico.
Daiane Weber – Hematologista do Centro Integrado de Terapia Onco-Hematológica (CITO)