O mês foi maio, o ano era 2014, e o diagnóstico da economia brasileira foi de que as empresas aumentaram sua produção contratando mais pessoas. Em 2014, os índices de desemprego alcançaram patamares historicamente baixos, havia certo consenso entre especialistas, empresários e integrantes do governo de que para a economia retomar a rota do crescimento e de maneira acelerada, seria preciso aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro, do mais baixo ao mais alto escalão.
Em 2014, o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Hélio Zylberstajn, afirma que “pela primeira vez na nossa história falta mão de obra - o que nos obriga a aproveitar nossos trabalhadores de forma mais eficiente". A "produtividade" virou a bola da vez do debate econômico.
De acordo com Fernanda de Negri, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). "Até os anos 80, os índices de produtividade brasileiros cresceram relativamente rápido em função de uma mudança estrutural da economia". A população migrou para as cidades e começou a engrossar as fileiras de trabalhadores da indústria e serviços, setores cuja produtividade costuma ser maior que a do setor rural.
Fernanda de Negri explica que produtividade é um conceito residual: trata-se de todo efeito sobre a produção que não pode ser explicado olhando-se para o aumento do número de trabalhadores (no caso do índice Produtividade do Trabalho) ou de trabalhadores e máquinas (no da Produtividade Total dos Fatores).
Simplificando, se uma empresa produz 100 sapatos em um mês e no seguinte consegue produzir 200 sem comprar novas máquinas nem contratar novos trabalhadores (ou pedir que seus funcionários façam horas-extras), teve um ganho de eficiência ou de "produtividade".
Dados da entidade americana de pesquisas Conference Board mostram que os funcionários de empresas brasileiras produziram em 2013 uma média de US$ 10,8 por hora trabalhada. Trata-se da menor média entre países latino-americanos.
A chilena foi de US$ 20,8, a mexicana, de US$ 16,8, e a argentina, de US$ 13,9. Além disso, a mesma entidade registrou um crescimento no índice de produtividade brasileiro de apenas 0,8% no ano passado, após uma queda de 0,4% em 2012. Para se ter uma base de comparação, o índice chinês teve alta de 7,1%. Produtividade do trabalho é um indicador que dá a medida da eficiência do trabalho em cada lugar.
A verdade é que as causas do baixo crescimento da produtividade no Brasil ainda são tema de um amplo debate. A revista britânica Economist, por exemplo, causou polêmica em 2014 ao sugerir que o problema poderia ser atribuído também a fatores culturais. "Poucas culturas oferecem uma receita melhor para curtir a vida", afirmou a publicação, citando um empresário estrangeiro que teria tido dificuldade para contratar profissionais comprometidos com o trabalho no Brasil.
Para o economista da Unicamp, Célio Hiratuka, a tese é "simplista e talvez até um pouco preconceituosa". "Em termos de cultura gerencial, o Brasil não é tão diferente de outros países que têm produtividade mais elevada", opina. É consenso que trabalhadores mais qualificados têm condições de produzir mais e melhor. E que investir em qualificação ajuda a garantir profissionais para uma produção de maior valor agregado.
A questão é que, nos últimos anos, o Brasil avançou no que diz respeito a escolaridade da população sem que isso se refletisse em seus índices de produtividade. "Na última década tivemos um aumento de dois anos na média de estudo dos trabalhadores formais, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados)", diz De Negri. "Trata-se de um aumento importante no estoque de conhecimento - por isso, é uma surpresa que os índices de produtividade não tenham respondido a isso." Especialistas explicam tal descompasso com duas hipóteses.
A primeira estaria ligada à questão da qualidade da educação no país. O fato de quase 40% dos universitários brasileiros serem analfabetos funcionais (segundo o Instituto Paulo Montenegro) dá a medida do desafio que o Brasil tem pela frente nessa área.
A segunda hipótese se refere à suposta falta de alinhamento entre os conhecimentos que as escolas e universidades transmitem e o que as empresas precisam para produzir mais - problema que os economista definem como "brecha de habilidades". Enfim, o desafio existe e é real, aproximar o ensino superior das empresas seria um grande passo para melhor a formação reduzindo as brechas de habilidades e melhorar a produtividade que tanto o Brasil necessita.
Adriano José da Silva
Professor Coordenador da Imed Business School
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