OPINIÃO

A vida é vocação

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O homem é um ser em construção. Vive num constante movimento de personalização. Vai se tornando pessoa a partir das relações que estabelece com os outros, do movimento para os outros, da saída de si mesmo e das escolhas e opções que vai fazendo. A pessoa está em busca constante de um significado para sua vida, de um sentido para viver. Esta experiência tem a marca da liberdade, pois ninguém pode ser condicionado, nem constrangido. O movimento inverso também pode acontecer, isto é, a despersonalização que consiste na perda do sentido de viver, de viver acomodado, fechar-se sobre si mesmo e a fuga das responsabilidades.

O modo humano de existir é incessantemente conquistado. Numa vida marcada por múltiplos apelos e desafios, o homem vai respondendo, escolhendo para dar um rumo à sua existência e uma integração interior, uma identidade pessoal. Sugestiva é a reflexão que o filósofo francês Emmanuel Mounier (1905 -1950) faz na obra O Personalismo: “É preciso descobrir dentro de nós, sob o amontoado das dispersões, o próprio desejo de procurar essa unidade viva, de longamente escutar as sugestões que ela nos murmura, de a experimentar no esforço e na penumbra sem nunca estarmos absolutamente seguros de a possuir – o que, mais do que qualquer outra coisa, se assemelha a um chamamento silencioso numa língua que passamos a vida a traduzir. Eis que a palavra vocação lhe é mais adequada do que qualquer outra”.

Para o cristão a vocação tem um sentido envolvente por se tratar do chamamento de uma Pessoa, de Deus. Toda pessoa ocupa no universo das pessoas um lugar que não pode ser preenchido por outra pessoa. Cada pessoa, mesmo aquela que considera que sua vida não tem nada de extraordinário, tem necessidade de responder ao plano amoroso de Deus. É dar uma resposta gratuita e generosa que corresponda ao chamado recebido que faz a vida ser extraordinária.

Viver a vida como vocação é desenvolver a capacidade de orientar a própria vida em direção de um “para quem”, para uma causa maior, para uma causa transcendente. É ter a capacidade de transcender o próprio eu. É ir além de interesses, adaptações e sucesso pessoal. Assim o homem se realiza não se preocupando com o realizar-se, mas esquecendo a si mesmo e dando-se ao outro vai encontrando a auto realização.

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo

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