OPINIÃO

Pai mais que pai, companheiro

Por
· 1 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Juca Kfouri estava na mira dos militares em 1971. Em 11 de setembro daquele ano, domingo, o Corinthians enfrentou ao Vasco no Parque Antártica. Juca almoçou com seu pai e levantou-se para ir ao jogo: seu pai, que fazia anos que não ía a estádios, também se levantou para acompanhar o filho. Choveu demais, levaram um banho para assistir a vitória do Curingão, gol de Rivelino em Andrada. O velho apenas não queria que seu filho andasse sozinho pelas ruas de São Paulo, era perigoso para o filho. O velho queria estar junto...

Em 2001 percebi, em visita à Floripla, estranhei meu pai... Calado, não ria das minhas palhaçadas. Minha mãe disse que ele estava assim há alguns dias. Disfarçadamente fui chorar em frente à casa porque imaginei Mal de Alzheimer, aquilo que desconecta as pessoas de seu entorno. O Grêmio naquela semana iria jogar um amistoso com o Figueira e tinha Amato, Astrada, Ernani e outros. Convidei todos os irmãos e fomos levar o velho ao jogo. De repente, ele sumiu e eu me preocupei, onde andaria? Meu irmão Luís disse que ele tinha ido ao banheiro. Mas, eis que o vejo retornando com meia dúzia de copos de cerveja e sorridente. Ergui meu copo e o abracei...meu pai havia voltado para ele e para nós. Fica, pai, fica prá sempre...

Arnaldo Jabor sempre teve imensos silêncios em sua vida com seu pai, ele nunca soube a razão. Senil, seu pai começou a urinar sangue e foi levado por Arnaldo a um hospital. Era homem simples, de roupas simples, de jeitos simples. De repente, um tiroteio dentro da sala de emergência; um médico assassinara um colega, crime passional. Lá estava o engravatado, jaleco ensopado em sangue, inerte. Arnaldo protegeu seu pai, homem simples, sem gravata e jaleco. Então, olhou seu pai como nunca havia olhado e se orgulhou. Havia muito mais a prender com seu pai do que as palavras que ele misteriosamente não sabia como dizer a seu filho...

Meu filho (25) quer saber onde andei nesses últimos vinte e cinco anos. Trabalhei e trabalhei, fiquei ausente. Meus filhos me amam mas, não sei se sou um bom pai. Que é ser um bom pai? As três historinhas acima falam da gente como os pais. Será que meus filhos têm historinhas bacanas para contar sobre a gente? Será que além de pais somos companheiros? Será que além de provedores somos exemplos?

Pensemos nisso, como dizia Sergio Jockymann, enquanto essa semana progride.

Obs: entre tantos nomes do mundo esportivo não salientei Edgar Schmidt, Batista Filho, Renato Cardoso, Celestino Valenzuela...é a idade.

Gostou? Compartilhe