OPINIÃO

A Casa do Pai

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Não estou autorizado a revelar como mas, furtivamente, talvez de maneira solerte, através de uma veneziana semiaberta consegui dar uma espiada para ver como é a Casa do Pai. Descreveria como indescritível ou, nas minhas concepções como harmônica, de paz, sem maldades, música suave, sem apegos materiais, sem medo e sofrimentos e sem saudades. Percebi meus pais e outras pessoas que já conseguiram o green-card. Quero fazer parte dessa festa, quero ir para o paraíso, quero figurar neste podium. Não consegui, no entanto, cola para saber o que é que foi questionado para a gente estar lá.
Tenho dois pais; um deles, o biológico sempre foi super-herói, tipo o que faz o que pode e o que não pode pela família. Foi um presente, como tantos que recebi. Tenho o pai divino que deve gostar de mim prá caramba. Ele me deu tudo, incluindo meus pais biológicos; me deu profissão, irmãos, esposa de valor inenarrável e filhos que me orgulham; deu-me condições para construir ambientes: deu-me possibilidades de construir finais felizes; deu-me até alguns leitores para apreciar essas bobagens que escrevo semanalmente.
Costumo pensar simples, como canções de novelas, por exemplo; simples como deve ser a vida, imagino. O dia dos pais, creio, até pode ser dividido entre antes e depois, antes de ser pai e depois de vir a sê-lo; entre antes de Fábio Júnior e depois. Antes desse cantor-compositor o dia dos pais tinha Altemar Dutra “era um bom tipo, o meu velho...que anda só e carregando...sua tristeza infinita...de tanto seguir andando” ou Teixeirinha “tropeiro velho na beira da estrada...tropeiro velho era meu próprio pai”. Fábio Júnior em Pai Herói apresenta o pai que não assumiu o filho “em seus braços você fez segredo”, fala do desejo de companhia “senta aqui que o jantar tá na mesa”, faz um pedido “nos ensina esse jogo da vida” e implora “eu só quero recostar no seu peito e pedir prá você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho no tapete da sala de estar”.
Caro pai que me brinda com a leitura desta, para entrar nas moradas celestes não é necessário nenhum grande truque; talvez seja necessário justificar-se naquilo que foi confiado como missão. Mas, atenção: não ser mau não quer dizer que a gente é bom; não ser desonesto não quer dizer que a gente é honesto; não ser mau pai não quer dizer que a gente seja bom. Confesso que estou na batalha para tentar ser uma centelha do que o meu pai biológico foi para mim e meus irmãos. Puxa vida, o green-card não é tão difícil assim, ensinam nossos pais. Deve ser por isso que o vi na morada, que é o lugar da habitação definitiva daqueles que deixaram exemplos e saudades, daqueles que não podem ser substituídos e deve ser também por isso que minha imaginação ousou perceber uma rápida piscadela dele para mim.

 

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