O homem enriquece (e, às vezes, também empobrece) o mundo com as suas construções culturais. De fato, são atos humanos que, retratando ideias e mentes (agregados de ideias), para o bem e para o mal, criam situações reais ou imaginárias, a partir de sistematizações provisórias de realidades percebidas. Conceitualizar, abreviar, tornar a realidade apreensível ao intelecto é o sinal de identidade que nos une e nos humaniza.
É por meio de conceitos que fazemos a representação de um objeto pelo pensamento. Os conceitos que temos das coisas, por exemplo, nada mais são que abstrações médias de realidades. Para tal, servem de base características gerais e aspectos comuns. Exemplifica essa teoria de formação de conceitos, o procedimento do retrato composto, inventado por Francis Galton no final do século 19. Querendo conhecer o “verdadeiro” rosto de Alexandre o Grande, Galton partiu de imagens distintas que figuravam em seis medalhas antigas. O método consistiu na superposição de imagem, gerando uma espécie de “Alexandre médio”, que ele assumiu ser mais fiel ao verdadeiro que cada uma das imagens individualmente. O procedimento reforçou o que havia de comum e cancelou as singularidades. Talvez por isso essa seja a melhor aproximação que conhecemos da imagem do grande comandante macedônico.
O que buscamos com o ato de conceitualizar é compreender o mundo na sua plenitude (ideal inatingível). Entender o mistério da evolução dos seres vivo, as intricadas elucubrações criativas de um texto literário ou de uma obra de arte, a crise contemporânea do homem com o ambiente e consigo mesmo, exige passos (trilhando um longo caminho por pensamentos distintos) que permitam diferenciar o relevante do trivial. Os cientistas empíricos (experimentais) devem se libertar da tentação de pensar e arguir prioritariamente de maneira indutiva, partindo de dados para hipóteses, e, de outra sorte, procurar realizar mais testes de hipóteses derivadas por dedução (com base nos fundamentos da ciência e da filosofia). Buscar o entendimento de como as ideias interagem e porque algumas sobrevivem e outras não, e, acima de tudo, não perder de vista que o objetivo último da ciência é avançar o conhecimento.
Nossas obras são reflexos de nossas mentes e de suas relações com o mundo exterior. Neste particular, desde os filósofos da Grécia antiga, duas visões de mundo se enfrentam, criando rígidas predisposições ideológicas. De um lado, os platônicos, e, de outro, os aristotélicos. Ou, se preferirem: racionalistas versus empiristas. Nesse embate, é natural, por exemplo, que um matemático tenha predisposição para se comportar como um platônico e que um biólogo tenha tendências de ser aristotélico. Cabe realçar que o pensamento formal (lógico), pretendendo refletir realidades imutáveis (eternas), envolve, não raro, generalizações empíricas de duvidoso valor universal, uma vez que a linha entre verdades tautológicas e generalizações experimentais não é perfeitamente delineada. De qualquer forma, Platão e Aristóteles comungam, quando o assunto trata da importância da conduta nos relacionamentos humanos, sendo, que, numa visão antropológica, é pela ação e pelo discurso que o Ser se revela.
A capacidade humana de elaborar conceitos depende de memórias. É a partir delas, numa espécie de elogio da imperfeição, que construímos conceitos de objetos canônicos, “médios”, a exemplo do retrato de Alexandre concebido por Galton, que ficam armazenados no nosso cérebro sob a forma de registros dormentes, e, quando ativados, podem recriar diversas sensações e ações associadas.
No terreno dos conceitos intangíveis podemos construir a pessoa ideal, tipo aquela mulher ou aquele homem, que você nunca ousou dizer que está apaixonado ou apaixonada, e que se torna infinitamente mais atraente pela simples razão de poder ser perfeita na imaginação.
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