Recentemente caiu em minhas mãos uma imagem com a seguinte frase: uma mulher leitora é uma criatura perigosa. Apesar do tom de ironia da peça, esse pensamento é tomado literalmente por muitas pessoas. Para muitos, o auto-conhecimento e o pensamento crítico que advêm da leitura são, realmente, muito perigosos. É um “grande perigo” que o outro e, neste caso, um outro feminino, saia do controle.
Será por isso que a leitura feminina é sempre tão criticada, controlada e, inúmeras vezes, subestimada?
Há um tempo atrás recebi um convite para falar sobre vampiros na literatura. Pediram que eu falasse sobre a saga Crepúsculo e seu apelo ao público adolescente, principalmente meninas dos 13 aos 20 anos. Tivemos um ótimo debate sobre a obra ser realmente sobre vampiros, ou uma história de amor que usa personagens vampiros para vender mais. Eu acredito na segunda hipótese, mas não há nada de mais que seja assim.
Coincidentemente, algum tempo depois, assisti a uma fala de uma autora que disse ter presente a da sua filha de 13 anos de idade com o livro O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir. Tenho certeza de que foi um presente de amor, mas fiquei pensando: O Segundo Sexo foi um ótimo livro para mim e eu adoraria que minha filha o lesse um dia, mas presenteá-la com esse livro aos 13 anos talvez não seja uma boa ideia. Esse é o tipo de livro que tem que ser lido por escolha própria, na hora certa.
Mas o que meninas adolescentes devem ler? Devemos nos “preocupar” com o que estão lendo? Devemos tentar intervir e apresentar-lhes textos que julgamos serem formadores de caráter (na nossa opinião)? Minha resposta é NÃO.
As pessoas escolhem ler certos livros por certas razões e todas têm a ver com quem elas são como indivíduos. Precisamos das histórias para fazermos nossas jornadas internas e, dependendo do que temos por dentro, elas serão diferentes. Pode até ser um gosto temporário: um determinado gênero que nos auxilie a achar respostas para questões ou anseios mais imediatos. Não nos damos conta disso quando escolhemos as histórias; acontece naturalmente - se tivermos a oportunidade de escolha, claro.
Devemos recomendar livros para as meninas adolescentes? Sim, se elas nos permitirem.Se formos capazes de enxergá-las como indivíduos cheios de vida (e hormônios) e não simplesmente como telas em branco. Se formos capazes de estabelecer um diálogo com elas – quando devemos escutar mais que falar – então, sim, recomendações de livros podem acontecer. De ambos os lados.
Não me preocupa que as meninas leiam os “livros certos’ mais do que me preocupa o que elas pensam e têm a dizer. Sendo capazes de pensar sobre sua própria vida e poder falar sobre isso as estimula a serem seres humanos inquisitivos e criativos (e perigosos!). E aí, sim, serão capazes de fazer suas próprias escolhas de leitura.
Talvez a melhor coisa que possamos fazer por nossas meninas, no que tange a livros, é deixar que leiam o que querem. Não há nada mais libertador do que escolher um livro com as próprias mãos e saboreá-lo em um lugar preferido de leitura. Permitir que nossas filhas tenham isso é torná-las livres. É um ato de muito amor.