Para pagar a conta de telefone, a auxiliar de padaria, Silvane Barden, precisa pedir licença do trabalho, sair do bairro São José e ir até o centro da cidade. É lá que ela consegue retirar a segunda via da fatura para, só então, quitar o serviço em uma das agências bancárias. Em outro lado da cidade, no bairro Vera Cruz, a cena se repete: o operador de produção, Joselio da Silva, deixou de pagar seus boletos na fruteira perto de casa porque todos os meses eles chegam atrasados. “Temos que estar sempre correndo porque, depois de vencido, não aceitam em qualquer banco”, comenta ele. Esta cena – que, segundo eles, acontece há pelo menos seis meses – se reproduz em outros bairros de Passo Fundo. Ambos reclamam da demora na entrega das correspondências dos Correios. “É sempre este transtorno. Recebemos o boleto depois do vencimento, temos que perder tempo e ir até o banco quando poderíamos pagar em qualquer lotérica, além de todos os juros que aumentam o preço”, diz Joselio. “A conta de luz é a única que chega certo, por que é entregue pela RGE. Perdi as contas de quantas vezes paguei conta atrasada por causa disso”, conta Silvane. Os dois moram nos bairros onde se recebe maior número de reclamações sobre entregas atrasadas por falta de carteiro, com acréscimo do Santa Marta. “Tem áreas da cidade que ficam até 15 dias sem receber a visita dos carteiros”, disse o diretor do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (SINTECT), Josemar Lara.
Faltam servidores
De acordo com a categoria, o trabalho de entrega de correspondências é feito por 50 servidores em Passo Fundo. O ideal, no entanto, seria se 80 pessoas realizassem o serviço. Uma média de 400 correspondências é entregue todos os dias por cada carteiro, mas o número é variável. “Em alguns distritos podemos ter 300 entregas por dia, em outros 1.500. No bairro São Luiz, por exemplo, podemos entregar, em 24 horas, 400 envelopes, enquanto no centro podem ser entregues 1.500”, explicou. A intensificação na reivindicação de um número maior de funcionários veio após um decreto da empresa, que pedia aos funcionários o atendimento de dois distritos por carteiro. “Para cumprir isso teríamos que caminhar cerca de 28 km por dia. Humanamente impossível”, defende Lara. Na audiência pública realizada na Câmara de Vereador, no fim da tarde de ontem (29), servidores dos Correios e entidades se reuniram para debater o assunto. Na faixa em frente a tribuna, os sindicalistas mostravam os dizeres 'não é culpa do carteiro', referindo-se a aos atrasos nas entregas. “A culpa mesmo é da precarização desta empresa, que já estava mal no governo Dilma e está cada vez pior com o governo Temer. Faltam pessoas em todas as unidades. A retirada de direitos não é só da nossa categoria”, reiterou Lara, no plenário.
O que dizem os Correios
De acordo com nota encaminhada pela assessoria de comunicação dos Correios, atualmente trabalham 87 carteiros em Passo Fundo. Os trabalhadores entregam, somente na cidade, cerca de 50 mil objetos por dia. No bairro Vera Cruz a empresa afirmou haver distribuição normal, sem alterações. A nota diz que no bairro São José ocorreram dificuldades pontuais devido ao afastamento de empregados por motivo de saúde. “O Correios realizaram contratações emergenciais de trabalhadores para realizar a entrega quando há situações de empregados concursados afastados temporariamente. Atualmente, há oito profissionais contratados nessa modalidade trabalhando em Passo Fundo. Além disso, os Correios realizaram mutirões para normalizar o serviço”, pontua o comunicado, que também deixa disponibiliza o link “Fale com os Correios” (www.correios.com.br), para que a população faça o registro formal das reclamações e resolva possíveis dúvidas.
CTCE dos Correios será reduzido para entreposto
A preocupação em relação ao futuro dos trabalhadores do Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas (CTCE), instalado no bairro Petrópolis, em Passo Fundo, também está na pauta do Sindicato. O órgão deve ser reduzido para um entreposto. Com a mudança, a unidade somente fará a triagem das encomendas com Código de Endereçamento Postal (CEP), 99. Postagens com os outros dois CEPs, 97, região de Santa Maria, e 95, região de Carazinho, serão encaminhadas para o Centro de Porto Alegre. Diretor do Sindicato Subsede de Passo Fundo, Josemar Lara, afirma que esta mudança já está em fase de testes há cerca de 20 dias e vem provocando atrasos nas entregas. “A postagem feita em Carazinho para Passo Fundo, que antes vinha direto para cá, agora vai a Porto Alegre, para depois retornar. Já constataram uma demora de dois para quatro dias na entrega” explica.
O sindicalista aponta ainda para outra preocupação. A redução no volume de encomendas no CETCE, terá reflexos no quadro de pessoal. O sindicato estima que pelo menos 20 funcionários do setor de Operador de Triagem e Transbordo (OTT), terão de ser transferidos. “Este pessoal poderá ser aproveitado na parte interna dos Centros de Distribuição. Nossa luta é para que permaneçam em Passo Fundo, onde estão com suas vidas estruturadas” diz Lara.
Contraponto
A assessoria de comunicação dos Correios, em Porto Alegre, confirmou, em nota, a mudança, mas disse que não existe uma definição de data para implantação do sistema. Também informou que a triagem na Capital será feita por máquinas, num processo mais rápido. A assessoria não soube precisar o número de funcionários que seriam transferidos a partir da alteração, no entanto, informou que existe demanda de trabalho para eles em Passo Fundo. De acordo com a nota, “há estudos no sentido de promover uma nova configuração da unidade que hoje é chamada de Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas de Passo Fundo. A unidade não vai fechar, apenas mudar o tipo de atividade que realiza”. A parte de tratamento de cartas já foi transferida para Porto Alegre, que tem maquinário necessário para fazer o trabalho de triagem com maior agilidade. Neste momento, continua funcionando no local as atividades do Centro de Tratamento de Encomendas (CEE). O CTCE Passo Fundo possuía 20 empregados que, em sua maioria, devem permanecer trabalhando no CEE. “A empresa acredita que todos os empregados devem ser atendidos nas suas solicitações de transferência, uma vez que há alguns que já estavam escritos no Sistema Nacional de Transferência dos Correios. Segundo a Gerência de Operações, todas as ações estão sendo avaliadas e ainda não há uma data definida para a efetivação da nova configuração do Centro”, declarou.