De acordo com a Revista Exame, em 1897, o ministro da Indústria, Joaquim Murtinho, um liberal, afirmava que o protecionismo criaria “indústrias artificiais”, que sobreviveriam à custa de incentivos e da imposição de preços mais altos ao consumidor. “Nenhum povo dispõe nem das aptidões, nem dos elementos naturais, nem dos recursos econômicos para estabelecer empresas de todos os gêneros.” E alertou: “O resultado dessa política industrial nós conhecemos de uma forma bem dolorosa”.
Como se sabe, a advertência do ministro Murtinho foi ignorada, e o Brasil se tornou um dos países mais isolados do mundo. E, a despeito de não ter sido ouvido, ele acertou duplamente. Primeiro, porque ainda hoje, mesmo depois da abertura comercial de 1990, há empresas brasileiras que só sobrevivem por estar protegidas da competição global. O Brasil ainda tem espaço a percorrer na abertura à competição externa. Segundo, ao dizer que nenhum país pode almejar ter um parque industrial completo, ele sem querer estava prevendo um modo de produção cada vez mais relevante: a divisão das atividades em cadeias globais de valor.
Nessa nova realidade, a produção é fragmentada em etapas e distribuída pelo mundo. Adotam a estratégia setores como automotivo, eletroeletrônico, calçadista, aeroespacial e vários serviços, como criação de software. Esse modo de produção ganha corpo desde os anos 80. Um exemplo de empresa que utiliza essa estratégia é a americana Nike, ao terceirizar a produção de calçados para fabricantes asiáticos, mantendo em sua matriz o design e o marketing, foi uma das primeiras a seguir essa via. Nos últimos anos, a redução dos custos de frete marítimo e o desenvolvimento das telecomunicações e da tecnologia da informação impulsionaram o fenômeno.
O desafio das empresas brasileiras de competir no com o mundo é o de produzir no Brasil, é produzir no Brasil. A conclusão é de um novo estudo da consultoria Boston Consulting Group sobre custos nas 25 maiores economias exportadoras do mundo. Em 2004, produzir no Brasil era 3% mais barato do que nos Estados Unidos. 10 anos depois, é 23% mais caro. O Brasil ficou empatado com a Itália e a Bélgica como o quarto país menos competitivo, na frente apenas de Austrália, Suíça e França. Foram levadas em conta 4 dimensões: salários, produtividade do trabalho, custos de energia e taxas de câmbio.
No caso brasileiro, houve um forte aumento na energia elétrica e no gás natural, mas o que pesou mais foi uma combinação de aumento dos salários (que dobraram nas fábricas) com baixo aumento de produtividade (só 1% ao ano entre 2004 e 2014). "Salários mais altos são tipicamente um sinal saudável de desenvolvimento, e uma década de crescimento econômico estável permitiu a milhões de famílias sair da pobreza para a classe média. Mas salários em alta não levaram a ganhos de produtividade.", diz o relatório. Isso pode ser atribuído, segundo o BCG, a fatores como infraestrutura inadequada, falta de investimentos e um ambiente caro e complexo para os negócios.
De 4 grupos, o Brasil foi colocado em "Sob Pressão", aqueles tradicionalmente de baixo custo cujas condições se deterioraram, junto com China, República Tcheca, Polônia e Rússia. Austrália e França estão entre os países "Perdendo Espaço", Índia e Reino Unido entram no time que está "Segurando Firme" e México e EUA são "Estrelas Globais em Ascendência".
O atual momento é propicio para redefinir o negócio em que se atua, focando custos, prospectando parceiros, novas possibilidades. O atual momento exige que os custos de produção ou custos de serviços sejam revisados para poder manter-se competitivo no mercado visando a recuperação da economia e a participação de mercado.
Adriano José da Silva
Coordenador da IMED Business School