A ciência evolui corrigindo os erros que vão sendo acumulados ao longo da trilha do tempo. Os erros surgem pela incapacidade humana de conhecer plenamente o mundo empírico que nos rodeia ou quando são adotados e prevalecem prejulgamentos equivocados sobre a realidade das coisas. A falta de referencial teórico ou de aparato tecnológico para viabilizar a refutação experimental ou teórica de hipóteses, não raro, ajuda a perpetuar verdadeiras aberrações que são tidas como corretas. Isso posto, pode aparentar que o progresso científico é dependente de ideias novas e que ideias novas são sempre bem-vindas no mundo da ciência. Será que é bem assim?
Dois estudos relativamente recentes – “Does Science Advance One Funeral at a Time?”, assinado por Pierre Azoulay, Christian Fons-Rosen e Joshua S. Graff Zivin, e “Bias against Novelty in Science: A Cautionary Tale for Users of Bibliometric Indicators”, de Jian Wang, Reinhilde Veugelers e Paula Stephan – que estão disponíveis para download gratuito no sitio internet do The National Bureau of Economic Research (http://www.nber.org) mostra que a realidade pode ser outra e que ideias novas nem sempre são muito bem-vindas no seio das corporações científicas e entre os membros dos colégios invisíveis que se estabelecem nos meios acadêmicos.
O primeiro estudo destaca que a presença de cientistas proeminentes em determinadas áreas do conhecimento em vez de incentivarem a entrada de novos pesquisadores no seu campo de atuação, não raro, pelo seu comportamento, desencorajam quem tem ideias diferentes das suas. O questionamento explicitado no título do artigo lembra o vaticínio genial de Max Planck que “uma nova verdade científica não triunfa pelo convencimento dos seus oponentes e nem se fazendo com que eles vejam a luz, mas sim porque esses oponentes eventualmente morrem e uma nova geração cresce já familiarizada com a nova teoria”. Em outras palavras, Max Planck disse que a ciência avança de funeral em funeral, ou, se preferirem, numa versão mais literal, a cada funeral. Os autores do artigo, para testar a hipótese de trabalho, usaram o caso de 452 acadêmicos considerados eminências nos meios científicos e que, por variadas circunstâncias, morreram prematuramente, antes de entrarem na fase de pré-aposentadoria ou de passarem a ocupar cargos administrativos. A conclusão foi que à sombra desses eminentes cientistas orbitavam os colaboradores que, depois da morte desses, perderam espaço e outros grupos, que, em geral pensavam algo diferente, ganharam maior relevância em publicações especializadas e na obtenção de financiamentos de projetos de pesquisa nas agencias de fomento, até então dominadas pela mão invisível do pensamento do cientista falecido. A tática usada para a rejeição ao novo não é tão óbvia e evidente no mundo acadêmico, mas são poucos os que ousam desafiar o pensamento dos luminares. A recompensa pela ousadia pode ser grande e, não raro, o custo maior ainda.
O segundo estudo lidou com o viés que há na comunidade científica em relação a ideias novas, especialmente no campo das citações bibliográficas, e na escolha de temas para dissertações e teses ou projetos de pesquisa, que, na teoria, deveriam primar pela originalidade e pela busca do avanço no conhecimento. O diferente, ainda que relevante, não costuma florescer de imediato e nem receber reconhecimento no curto prazo. Realizar uma pesquisa acadêmica baseada no novo, primando pela busca de inovação, pode levar a resultados de grande impacto, mas também carrega a incerteza de que não seja alcançado qualquer impacto. E, apesar da atrativa relação “risco alto/ganho alto”, num meio dominado pela tirania das métricas de produtividade acadêmica, nem todos estão dispostos a ousar ou esperar pelo reconhecimento de originalidade que, em geral, vem tardiamente.
Eis duas idiossincrasias que lembram o paradoxo da estupidez funcional que desencoraja o “pensar diferente” no mundo acadêmico.
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