OPINIÃO

Noites insones

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Dia 09 de dezembro 1982 comprei um terno preto nas Lojas Edu Ele&Ela Modas. À tarde fui ao Lauro Joalheiro em frente ao Correio e adquiri uma caneta que tinha um relógio digital. Na manhã seguinte, dia de minha formatura, entreguei-a a Eduardo Fernandes no bar do Turis Hotel. Eram 10 da manhã e solicitei que Eduardo me presenteasse como se tivera comprado, afinal eu merecia um presente de formatura. Eduardo levantou-se e em voz alta disparou homenagens salientando as dificuldades que eu tivera para me formar. Alguns aplaudiram, outros pensaram estar diante de mais um mercenário da Medicina. O som da época era It’s Raining Again (Supertramp), Blitz e Morena Tropicana (Alceu Valença). Ano seguinte o meu cenário era Santiago, exército e hospital militar, madrugada qualquer e rolava João Bosco (tá lá um corpo estendido no chão...) e Fagner, em Guerreiro Menino. Alceu Valença cantava Anunciação. Eu lia Marcelo Rubens Paiva, eu ouvia Chico-Caetano-Gil-Gonzaguinha-Adoniram-Elis.
1995, madrugada, chove suavemente, rodo com minha mulher pelas ruas centrais da nossa cidade; agora não mais porque ela tem medo de assaltos, mas compenso rodando com minha filha quando ela vem me visitar. Em 1995 o rádio encana Kleiton&Kledir. Lembrei de quando terminamos o noivado em 1986 e varria a cidade ao som do RPM, Kiko Zambianchi, Rita Lee (As noviças do Vício) e Dr. Silvana. Vejam bem, músicas bacanas e comuns, assim como minha vida, meus amigos e meus amores.
Sempre foi assim minha trajetória, trilhas sonoras como as que Oliveira Júnior colocava às 23 horas na Planalto. Era o tema de Aeroporto, Barry White, Bread, Perry Como e Tony Benett. Foi assim também em 1974-75 quando ficava acordado nas madrugadas, como hoje, para sintonizar a Super Rádio Tupi e a Globo do Rio, em que na voz de Luciano Alves captava os lançamentos como as músicas de Moacyr Franco (Cartas na Mesa), Jair Rodrigues, o famoso “cachorrão” e Luís Américo. Às vezes, rolava Tom e Dito. Eu copiava as letras e a gente tocava, Bruno Juriati e eu, lá no Cenav, para os complacentes ouvidos de nossas colegas de aula.
Agora, 03 da madruga, na Antena 1, toca The Air That I breathe dos The Hollies, entoada pelo Simply Red e lembrei novamente do meu grande amigo Hélio Ribeiro e suas versões.
Sabe, pessoal, coloquei essas coisinhas, talvez meio sem graça para muitos leitores porque depois dos arranjos políticos entre PMDB e PT verificados essa semana e constatar o desatino de duelos na rede social entre cidadãos queridos e de bem de nossa cidade embalados por ideologias políticas , confesso estar enojado. Há uma festa, com nosso dinheiro e para a qual não fomos convidados. Há um ranço permanente de coisas que aconteceram no milênio anterior. Nós, os velhinhos, já estamos sendo escanteados. O mundo somente vai melhorar quando a gente for embora, falhamos, nossa geração falhou e a prova está na quadrilha de gente de esquerda-direita que nada tem a ver conosco. Melhor cantar...foi bom e prá sempre será...

 

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