Li numa revista de faroeste chamada Ken Parker, criação de Giancarlo Berardi e Ivan Milazzo, baseada claramente no personagem Jeremiah Johnson (Robert Redford - 1972) que as fases da vida podem ser comparadas às estações do ano. A infância-primavera de nossas vidas, é estação cheia de cores e luzes, temperatura agradável, feliz, repleta de flores, fase linda e romântica. É a primavera de Beto Guedes (Sol de Primavera, da novela Marina – 1980) que me lembra minha mãe, assim como também na Primavera de Cassiano, eternizada na voz de Tim Maia. Lembra a mãe porque lembra colo, acalanto, coisas que mesmo que o tempo passe fica altamente impregnada nas nossas almas. Depois vem o verão-juventude, cheio de gás, energia total, florescem os hormônios, brota o desejo de amar alguém, desejo de tudo e somos jogados ensandecidamente para todos os lados, muitas vezes como cavalos de corrida, só que sem jóqueis. É a época do cansaço-zero, ao contrário, é hora de movimentos horizontais ou verticais, época de Move On (Abba – 1978), sucesso concomitante da copa da Argentina, tempo em que eu corria no asfalto da Presidente Vargas, chuva-frio, por razões que somente o coração e seus exageros na paixões consegue explicar. A música dizia “like a roller in the ocean, life is motion, move on”. Na sequência vem o outono-madurez, hora em que a vida fica extremamente séria, hora em que os cabelos embranquecem ou começam a ir embora. Não há mais espaço para a correria desordenada, urge responsabilidade, previsão, razão. É hora de ponderar porque há gente que depende da gente. Finalmente vem o inverno-senilidade, o desassossego, o frio, a sensação do abandono, a necessidade absoluta de apoio e carinho irrestritos. Nessa fase muitos recebem o Dr Alzheimer e ficam desconectados, hora de esperar o chamado.
Li essa correlação há muitos anos, tempo em que eu e meus irmãos Poco e Caio líamos e relíamos todas as edições de Ken Parker. Amo a todos eles, meus irmãos, pelos grandes momentos, inclusive estes, aparentemente de importância menor, mas não para mim.
Todas as estações têm seus frutos e dizem que os do outono são os mais saborosos. No meu outono, ainda meio verão, uma parte de mim pede e pondera, outra parte delira; uma parte de mim é permanente, outra parte se sabe de repente (Ferreira Gullar). Amo essas fases todas, homem de fases. Não cabe tentar viver a primavera e o verão quando estamos no outono, é preciso bom senso, diz-me o meu outono. É, também, a fase do encontro consciente com o Criador, a fase da contemplação do divino, a fase de compreender a presença constante da luz nas nossas vidas. Quando não percebemos a presença Dele convém lembrar que ‘se o seu amigo vento não lhe procurar é porque multidões ele foi arrastar”. É o outono a fase de encontrar desideratos e justificativas para o merecimento desse extraordinário presente chamado – vida.
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