Todas as estações do ano têm a sua beleza e seu charme, mas a primavera se destaca. Uma explosão de vida se manifesta em forma de flores, brotos, folhas, cores e cantar dos pássaros. O que estava adormecido acorda convidando para a renovação e mostrando a sua força de sempre recomeçar. É a natureza se manifestando, atraindo e provocando.
A admiração é o primeiro sentimento agradável despertado diante da estação extraordinária da primavera. Ao dirigir o olhar para o horizonte ou fixá-lo numa minúscula flor, fica-se perplexo pela variedade de espécies, com formatos e dimensões diversos, pelas cores com suas diversas tonalidades e harmonia. A admiração não acomoda o olhar no superficial ou no evidente, mas desperta curiosidade, aprofundamento, veneração, reflexão e ação.
Louvar a Deus, o criador, pela bela obra da criação é dever das criaturas. São Francisco de Assis, já muito doente e com dores, compôs um belo louvor, denominado “Cântico das Criaturas”. Retomo parte deste hino para cantar com São Francisco: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção. Só a ti, Altíssimo, são devidos; e homem algum é digno e te mencionar. Louvado sejas, meu Senhor, com todas as suas criaturas, especialmente, meu Senhor, pelo irmão sol, que clareia o dia e com sua luz nos alumia. E ele é belo e radiante com grande esplendor: de ti, Altíssimo é a imagem. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas, que no céu formaste claras e preciosas e belas. Louvado sejas meu Senhor, pelo irmão vento, pelo ar, ou nublado ou sereno, e todo o tempo pelo qual às tuas criaturas dás sustento. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água que é mui útil e humilde e precisa e casta. ...Louvado sejas meu Senhor, por nossa irmã e mãe terra que nos sustenta e governa e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas”.
Cuidar da natureza para que continue renovando a vida presente e para as gerações futuras é compromisso de todos. Em 2015, o papa Francisco nos presenteou com a carta encíclica Laudato Sí, “Sobre o cuidado da casa comum” conclamando os cristãos católicos e todas as pessoas que quiserem se agregar para ouvir o clamor da mãe terra pelos males a ela causados. Mesmo a natureza sendo forte, bela e com grande capacidade de recomeçar, ela necessita ser cuidada. Afirmou o Patriarca Bartolomeu que “um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus” (in Laudato Sí n.º 8). A preocupação deve ser com a chamada ecologia integral que engloba a natureza, a justiça social, a economia, o empenho social e a construção da paz. Fazer isto com simplicidade, com pequenos e grandes gestos, e com alegria.
Louvados sejas, meu Senhor, por sermos suas criaturas e por vivermos num universo tão belo.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
23 de setembro de 2016