OPINIÃO

Paixão e espetáculo

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O defensor do ex-presidente Lula disse que a denúncia por crimes apontados na Operação Lava Jato foi resultado da avidez pelos holofotes midiáticos da acusação. E citou, sem a menor advertência, a frase dominante na música derradeira interpretada por Freddie Mercury “The Show must go on” (o show precisa continuar), escrita por Brian May. O tom da expressão expõe irritação com os efeitos na mídia da coletiva à imprensa convocada pelo MPF, ao deliberar sobre a denúncia que pronunciadamente usou mais adjetivações do que exibição da prova. A denúncia, no entanto foi aceita pelo judiciário. Agora é acompanhar o andar do processo que versará sobre as provas, contra e a favor do ex-presidente. Tanto uma como outra manifestação ficaram em ilações subjetivas, ou convicções. A comprovação das acusações ou da defesa dependerá de coisas mais concretas. Na verdade não sabemos o teor de centenas de páginas que interligam fatos e situações que só serão apreciados para a validade jurídica no momento oportuno, pelos magistrados.

Na democracia
Vários aspectos vêm à baila num ano eleitoral. E não era esperada nenhuma carícia entre o sistema de comunicação já conhecido e a tendência da maioria dos barões do jornalismo brasileiro que vive a inópia da reprodução dirigida. Está posto o cotejo de forças, sabendo-se que Lula é o nome visado pelos adversários eleitorais. O enredo na malha de corrupção é inegável pesando muito mais para quem está fora do poder. O momento é péssimo para o PT. A democracia, o devido processo legal e o direito de defesa são a única base de sobrevivência, uma vez que há apenas a acusação judicializada e que ainda não significa condenação. A inegável verdade de que outros segmentos partidários estão envolvidos em escândalos e acusações não alivia a base da crise. A democracia não é justa por si só. E nem é tão bela como parece, mas é processo muito melhor do que as diferentes formas de ditadura.

O que ficou
Votei no Lula, convicto de que mudanças fossem feitas. E foram. Vi espaços abertos nas faculdades, melhores salários ao trabalhador, redistribuição para acabar com a vergonha da fome, vi projetos respeitando negros e índios, além de casas para muita gente. Vi idiotas bradando contra o Bolsa família. Magnífico! Uma revolução. Importante é que isso ficou na consciência política do povo.

A decepção
O que decepcionou foi a corrupção, que está instalada há muitos anos no país. O PT usou a mão do gato. Tudo tem que ser revelado e punido. Um partido que parecia forte aderiu à traição ao povo. Vai pagar por isso! Como diria Aristóteles a seu amado mestre: “Amicus Plato, sed magis amica veritas” – Platão é amigo, mas mais amiga é a verdade!

 

Reforma
A reforma previdenciária é urgente. Mais urgente ainda é a revisão da remuneração escandalosa de cargos e funções no parlamento, especialmente o Senado. Só depois haverá ânimo para cortar vantagens dos aposentados.

Retoques:
A morte do líder Shimon Peres, 93 anos, que governou Israel durante sete anos, vem fazendo falta à idéia de compreensão humana.
Observadores preocupados com a votação relâmpago no Congresso. A proposta de repatriação do dinheiro do exterior depende de redação bem esclarecida para não anistiar o crime.
Embora não se fale mais em pedaladas, é impressionante o roubo de bicicletas destinadas ao uso popular na Capital. O projeto é bom e força questionamento da hegemonia do automóvel.
A prioridade de Temer é a venda de concessões do pré sal, que rende caixa! A Petrobras não terá mais exclusividade na exploração. Outros assuntos e reformas vão ficando pra trás! É flexibilização!

A esquizofrenia da sobrevivência democrática para os partidos ainda vai revelar coisas surpreendentes!

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