O establishment acadêmico tem preconceitos contra os chamados “popularizadores” da ciência. Gente que escreve (ou procura escrever) de uma maneira inteligível para os nãos iniciados. Isso fica claro na forma desdenhosa com que frequentemente são feitas referências a esse tipo de atuação acadêmica ou na valoração que é dada aos trabalhos dessa natureza no conjunto dos indicadores de produção científica.
Peter Drucker, em gestão empresarial, Jorge Luis Borges, em literatura, e Paul Krugman, em economia, são exemplos de intelectuais que, apesar da opinião dos pares, com aparente indiferença, relegaram ao esquecimento, nas suas respectivas áreas, pretensos cientistas de escol que ousaram tecer críticas aos seus trabalhos.
Possivelmente, o maior pensador e escritor em gestão empresarial, de todos os tempos, tenha sido Peter Drucker. Não obstante Drucker ter uma carreira acadêmica, como professor nas Claremont Graduate School, e exercido o papel de consultor em corporações importantes, ele foi duramente criticado pelos pares, que insistiam em não reconhecer méritos em seus livros e ensaios. Os críticos de Drucker propalavam que resultados de pesquisas científicas deveriam ser disseminados em periódicos científicos, não em livros ou revistas de divulgação. Peter Drucker, autor de inúmeros livros e assíduo frequentador das páginas de jornal e de revistas de divulgação, escrevia para profissionais da área de gestão, em linguagem compreensível. Ao contrário, segundo ele, os seus críticos escreviam para colegas acadêmicos. Era natural que muitos dos seus contemporâneos não gostassem e se ressentissem com o sucesso de Peter Drucker. E esse ressentimento chegou a tal ponto que, por ocasião da passagem dos 75 anos de Peter Drucker, quando o jornal The Los Angeles Times publicou uma reportagem especial dedicada a ele, perguntando a escritores acadêmicos de renome o que haviam aprendido com Drucker e qual a contribuição dele para a disciplina da gestão, um desses críticos (hoje esquecido) usou o espaço para demonstrar a sua frustração pessoal, dizendo que não poderia falar sobre Drucker uma vez que nunca havia lido Drucker, pois Drucker, disse ele, não publicava seus trabalhos em periódicos científicos.
Jorge Luis Borges ainda não era considerado um escritor genial como é hoje, quando, em 1956, iniciou como professor de literatura inglesa na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. E que pese nunca ter obtido um título universitário, Borges, não sem críticas, foi escolhido para a função frente a outros postulantes que detinham currículos recheados de artigos acadêmicos. Com sua magistral ironia, frente aos críticos, Borges dizia que conseguiu o posto de professor, apenas com a seguinte declaração: “sin darme conta me estuve preparando para este puesto toda mi vida”. Parece que esta simples proposição surtiu efeito; pois ele foi contratado E, seguramente, não havia escolha melhor, pois se observou uma relação muito estreita (quase indissociável) entre Borges escritor e Borges professor.
O economista Paul Krugman é um exemplo notório de intelectual com formação científica robusta e aguçada capacidade de comunicação. Foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 2008 e é bastante conhecido fora dos meios acadêmicos por suas colunas no New York Times (reproduzidas em jornais do mundo todo, inclusive brasileiros). Krugman é um professor com contribuições importantes para a teoria econômica (no campo da nova teoria do comércio internacional) e colunista brilhante. E, no entanto, Krugman, por entender que equações sofisticadas e diagramas da economia formal, quase sempre, não passam de andaimes que ajudam apenas a construir o edifício intelectual das ideias, devendo, quando a construção chega a certo ponto, serem removidos, ficando apenas estruturas e paredes de linguagem coloquial, seus textos são extremamente claros.
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