OPINIÃO

Pela lente de Carlitos

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Passo Fundo ainda deve reconhecimento a alguns profissionais da fotografia cujas lentes registraram boa parte da história municipal dos últimos 100 anos. Quer seja em estúdio, fotografando as personalidades locais; em laboratórios, revelando negativos tirados por terceiros ou por eles próprios; ou em cobertura de eventos, nomes como Deoclides Czamanski, Tamagnone e Carlos Alberto Loureiro (há outros, com certeza, ainda em atividade ou não), deixaram um valioso legado documental, que, ora em mãos de historiadores acadêmicos ou dos nossos memorialistas, tem servido como fonte primária para reconstrução e/ou melhor interpretação da história local.

Carlos Alberto Loureiro, Carlitos, faz parte desse time de elite dos fotógrafos passo-fundenses, do qual foi titular durante 50 anos (1962-2011). Uma bela história pessoal e profissional, que será contada em detalhes na próxima edição da revista Água da Fonte, o periódico da Academia Passo-Fundense de Letras, que deverá circular em novembro desse ano.

Carlitos despertou para a fotografia aos 14 anos. Segundo ele, ficou intrigado com as fotografais 3 x4 da irmã, todas iguais, que estavam sobre uma mesa e haviam sido feitas pelo lambe-lambe Barros, da Praça Marechal Floriano. Depois, por influência da mãe, que era amiga da esposa do fotografo Aparício Assunção de Moura, proprietário da extinta Foto Tropical, conseguiu, aos 15 anos, uma entrevista, no dia 1º de setembro de 1962, para começar como aprendiz naquele estabelecimento, e, desde então, até a aposentadoria, em maio de 2011, trabalhou intensivamente no ramo fotográfico em Passo Fundo.

Na Foto Tropical, Carlitos, que por ser muito jovem era chamado pelos fotógrafos veteranos de “Tropicalzinho”, aprendeu, na pratica, os ofícios da profissão que abraçaria para o resto da vida. Começou enxugando fotos na secadeira, passou para a função de repórter fotográfico e galgou o posto de laboratorista chefe.

Depois de sete anos com Aparício Moura, Carlitos deixou a Foto Tropical e foi trabalhar na Foto Souza, de Rosalino Mattos de Souza. Em um assalto, Rosalino Souza foi vitima de um tiro, que o impediu de continuar na profissão. Então, foi assim que, em 1990, Carlitos se tornaria proprietário da Foto Souza e manteria esse estabelecimento em funcionamento, na Galeria Ca`Doro, na Av. Sete de Setembro, nos próximos 21 anos.

Era dono de uma técnica apurada para colorir manualmente fotografias em preto e branco. A fotografia que tirou do lendário time do Internacional, no Vermelhão da Serra, originalmente em preto e branco e depois colorida por ele, cuja reprodução pode ser encontrada na edição do jornal O Cidadão, de 30 de abril de 2003, atesta bem o quanto dominava essa arte, que, com a inovação do filme colorido, seria deixada de lado.

Possivelmente, a fotografia mais popular (e venerada pelos fieis) de Carlitos, embora sem identificação de autoria, seja a da Maria Elizabeth de Oliveira, a nossa “Santinha”, cujo túmulo, no Cemitério da Vera Cruz, recebe, anualmente, caravanas de devotos de várias partes do País. Carlitos havia fotografado a “Santinha” Maria Elizabeth, no Clube Comercial, com uma guitarra, dublando nas apresentações colegiais, que eram comuns na época. Sobre a foto oficial de Maria Elizabeth, confessa ele: “restaurei manualmente a sua hoje foto oficial, coloquei brinquinhos nela, eliminei o fundo preto e refiz imperfeições com lápis especiais da Alemanha”. É do Carlitos também a foto oficial do nosso, hoje, bispo emérito Dom Urbano Allgayer, feita quando da sua chegada a Passo Fundo.
Na vida privada, Carlitos é casado com Sra. Cecília e pai da Cláudia, do Daniel e do Juliano. Vive em Passo Fundo, na vila Vera Cruz.
Entre tantas recordações que lhe são caras, Carlitos ainda guarda na memória as palavras do melhor fotógrafo em preto e branco, em estúdio, que os passo-fundenses conheceram, o Sr. Olir Tamagnone: “Você será meu sucessor!”. O reconhecimento de um mestre não tem preço.

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