OPINIÃO

E, daí?

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Ao expirar o sujeito chega às portas do céu e se acha no direito de entrar no mundo da paz infinita, onde não há mais relógios, contas, celulares, doenças. Times de futebol, saudades e onde a vida e o tempo são eternos. Leio, em algum lugar, que na casa do Pai há muitas moradas; deveria ter lido que muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Você se acha um dos escolhidos e, então, o porteiro celestial pergunta: e, daí? Que fez você para se achar que tem livre entrada?
Eu... bem, sou um cara desorganizado, perco apontamentos, esqueço de nomes de pacientes, esqueço de alguns compromissos. Eu...sou um cara organizado, sei exatamente o dia-mês-hora em que me decidi pela Medicina, lembro da poesia e circunstância que declarei à primeira namorada; sei também quando percebi que Sandra era a mulher definitiva, sei quando ela engravidou de Ramon e da Gê. Meus livros e discos têm seus sentidos de compra bem definidos, nada foi comprado ao acaso. Não acredito em acasos; ao contrário de John Gray autor de Cachorros de Palha, em que defende que somos miríades altamente manipulados e parte de um caos, penso que tudo se encaixa ou deveria se encaixar. Penso que toda vida deva ter um propósito e segundo Mário Sérgio Cortella em seu último livro “Por que fazemos o que fazemos”, ao ponderar a possibilidade de ter livre entrada no céu as perguntas a nós dirigidas pela divindade seriam:
- o que fez, fez por quê?
- o que não fez, não fez por quê?
- o que fez e não deveria ter feito, por que o fez?
- o que não fez e deveria ter feito, por que não o fez?
Ou seja, ao feito e não feito cabe uma explicação-justificativa lógica; há o que depende de nós (e a sobre isso poderemos ser cobrados) e há o que não depende de nós. Quando a solução depende de nós aí está um probleminha e quando não depende aí mora um problemão.
Sei lá, o propósito da existência, essa pergunta repetitiva e minha mente tem me incomodado. Dia desses McCartney declarou que os Beatles era um bandinha bem legal. Talvez, num desses devaneios que ocorre nos velhinhos ele deva ter perguntado: o que leva uma multidão entrar em histeria quando canto aquelas musiquinhas pueris de 3 ou 4 acordes? Talvez a histeria seja por impulsos elétricos que faça a gente mexer as cadeiras ou talvez seja por remeter a um tempo igualmente pueril onde a gente se reunia nas garagens de nossas casas para dançar coladinhos e tomar refresco ou limonada, sem questões existenciais, sem a consideração de que um dia alguém perguntaria sobre nossas decisões. E, daí?

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