OPINIÃO

O Boka do Edu

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Edu do Boka fez aniversário, consta na rede social. Bacana, as redes servem ou deveriam servir para essas coisas, reconhecimentos e homenagens. Dia desses aproveitei vaga na mesa 1 e, acomodado em uma das remanescentes poltronas do cine Pampa, Edu e eu falamos sobre os bares que abriram e fecharam nos últimos 50-60 anos. É a nossa história, nossas paqueras, flautas, fofocas e consolidação das grandes amizades. Há o que deu certo, há o que teve continuidade, há o que fechou por insucessos comercial, de localização ou de marketing. Minhas referências partem de 1970, ano em que me tornei passofundense. Falamos dos antigos – Maracanã e Gageiro...; falamos dos intermediários – Bier Park, Carlitos, Wings, Casablanca, Parole, Habeas...; falamos dos recentes – London e todos os existentes na Independência...Há, nessas reminiscências, muito mais que nostalgia; há um punhado de histórias e estórias que vão se diluindo ao tempo; tradição passada via oral, forma verbalizada que vai perdendo autenticidade porque vai trocando matizes conforme vai sendo recontada. Uns de nós morrem ou mudam de cidade carreando aventuras em outras praças, outros não dão a dimensão que essas coisas merecem. O bar, churrascaria, padaria, enfim, somente têm importância pelas pessoas que nos fazem companhia porque o lanche muda uma coisinha aqui e ali e, na verdade, a gente não vai lá para comer, a gente vai para beber e conversar, sobretudo para rir e relembrar.
No começo dos anos 1970 havia o Bokinha e o Trailer do Natus na Praça Tamandaré. Eu ía à Lancheria Brotoeja com meu irmão Renato e Tito Bassani. Ah, aquelas cervejas pretas. Depois Gageiro, Napoli e os vinhos de jarra. Galeterias? Sim, várias. Churrascarias? Sim, muitas. Aportavam, os mais velhos, com aquela bolsa de mão conhecida como capanga; as pessoas fumavam e também se faziam acompanhar, eventualmente, das manjadas camangas (atualmente, acompanhantes de executivos); alguns, sem maiores pruridos, arranjavam acompanhantes baixinhas e sem cinturas, ao que chamávamos jocosamente de mini-brahma. Vimos de tudo, desde o que se pode e o que não se pode narrar. Vimos começos e fins de relacionamentos...vimos juras eternas que se desfizeram em dias... vimos os que partiram para sempre e que retornaram de vez. Falamos, Edu e eu, de quase tudo e principalmente do que fizemos ao longo do tempo e o que o tempo fez de nós. Anotei tudo ou quase tudo em um guardanapo e lamentavelmente extraviei, terei que retomar. À mesa, cerveja ou vinho, Fernando Miranda e Múcio de Castro Filho, referências imprescindíveis a à história passofundense, testemunhavam e palpitavam com propriedade acrescentando informações. O Boka serve para isso também, para atualizações e correções.
Passo Fundo tem muitas facetas que podem ser fortemente analisadas – periferia-centro; noite-dia; famosos-anônimos; felizes-infelizes; envelhecidos-atualizados Há a necessidade imperiosa de lugares mágicos para que possamos contar histórias e tentar galgar importâncias as nossas passagens, sobretudo para rirmos de nós mesmos. A importância social que todos almejam tem que ser testemunhada por alguém. E um desses mágicos lugares é o Boka. Andaram comentando há alguns meses que Edu iria vendê-lo, tem gente que dava detalhes da transação. Testemunhei a sensação de frustração geral porque é um pedaço, mais um, que escaparia entre os dedos. Brinde ao Edu que permanece e obrigado, em nome de nossas histórias.

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