É na primeira infância, período que vai da gestação aos 6 anos de idade, que a arquitetura do cérebro começa a se formar. Esta arquitetura será fortemente influenciada pelas experiências vividas, sendo que as experiências mais marcantes vem do relacionamento com as outras pessoas que convivem no mesmo ambiente.
Problemas no início da vida como a violência familiar, a negligência nos cuidados com a criança, creches inadequadas, entre outros, podem interromper o desenvolvimento saudável do cérebro. Os estudos na área do desenvolvimento humano mostram que experiências positivas na primeira infância ajudam no desempenho escolar, no processo de alfabetização e no estado de saúde geral como um todo, evitando doenças cardíacas, obesidade e diabetes na vida adulta. Ter oportunidades apropriadas de desenvolvimento, que promovam o desenvolvimento saudável do cérebro na infância, podem afetar a saúde, o comportamento e o aprendizado por toda a nossa vida.
Nascemos com um diagrama a ser executado na nossa genética, mas as experiências vividas moldam uma base forte ou fraca para nossas futuras aprendizagens, nosso comportamento e saúde ao longo da vida. Circuitos e conexões cerebrais se fortalecem com o uso frequente, pela repetição. Logo, são as experiências e estímulos proporcionados pelo ambiente e pelos pares que determinarão quais serão os circuitos cerebrais mais usados. Enquanto as conexões cerebrais pouco usadas ou estimuladas desaparecem através do que se se chama de poda neural.
Todas as áreas do cérebro estão conectadas: controle do comportamento, habilidades motoras, linguagem, memória, emoções, visão, etc. O uso repetido destes circuitos faz com que se tornem mais eficientes e se conectem mais rapidamente às outras áreas do cérebro.
A interação forma as bases da arquitetura cerebral onde posteriormente todo o desenvolvimento será construído. O chamado jogo de ação e reação entre a criança e o adulto molda a arquitetura do cérebro, onde a medida que o adulto fornece significado para as ações da criança, novas conexões se formam no cérebro infantil. Por exemplo, o bebê segura um objeto e o adulto fala o nome do objeto, cria-se nova conexão cerebral entre um som específico (nome do objeto) e uma imagem cerebral correspondente (a imagem do objeto). Mais tarde, no período de alfabetização, o som que nomeia este objeto será representado graficamente criando novas conexões cerebrais. O jogo de ação e reação entre crianças e adultos estabelece as áreas emocionais e cognitivas de todo o desenvolvimento a ser construído, pois não falamos sobre o que não conhecemos, sobre o que não conseguimos ao menos nomear, muito menos escrevemos sobre. Cada etapa do desenvolvimento se constrói sobre a anterior.
Todos os bebês balbuciam sons guturais até os seis meses de vida. É como se nascêssemos programados para isso. Contudo, se por algum motivo como a surdez congênita ou simplesmente, a falta de estímulos linguísticos adequados neste período, a criança não for exposta a esse jogo de ação e reação, o bebê começa a silenciar. É neste período que muitos atrasos no desenvolvimento da linguagem da criança iniciam.
Hoje temos o Teste da Orelhinha que é realizado obrigatoriamente ao nascimento e permite a detecção precoce da surdez congênita, propiciando uma intervenção adequada e rápida com o uso de dispositivos sonoros como próteses auditivas e implantes cocleares, ambos oferecidos pelo SUS.
Porém, ainda não temos políticas públicas adequadas para diminuir a criminalidade, melhorar a qualidade de vida de grande parte da população carente do país, adequar os índices e intervenções na área da educação, situações que promoveriam o pleno desenvolvimento da criança na primeira infância. Logo, fica a cargo da família esforçar-se por oferecer estímulos e condições adequadas ao desenvolvimento dos seus filhos. Lembrando que temos crianças apresentando déficits em alguma área do desenvolvimento em todas as camadas sociais. Em tempos controlados pela mídia e tecnologia, onde crianças estão expostas em tenra idade e sem critérios; experiências permeadas pelo afeto, carinho, atenção, diálogo, tempo disponível e brincadeiras que promovam a imaginação e a fala, podem fazer a diferença no desenvolvimento infantil.
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