SILÊNCIO
Tinha decidido não escrever a coluna desta quarta-feira. Fui acometida de uma falta de energia absurda. Que palavras poderia eu escrever que não foram escritas? Que mensagens poderia passar que não tivessem sido publicadas ou enviadas? Não sei escrever sobre tragédias. As palavras me fogem, não se alinham e sou tomada por uma profunda confusão mental. Ao mesmo tempo que me perco nos sentidos, sou chamada pela responsabilidade de ter que organizar tudo para ser publicado, em forma de notícia. Eis o que me coloca nos eixos: a informação. Não é fácil para profissionais, mesmo experientes como eu, lidar com tragédias como a que se abateu em Chapecó, que perdeu o time do coração (Chapecoense) num desastre aéreo sem precentes. Não é fácil para nós jornalistas ter que noticiar a morte de colegas jornalistas no exercício de suas atividades. Não é fácil dissociar a empatia, natural do ser humano, da frieza que se deve ter ao decidir o que se publica e o que se corta na hora da edição. E a foto da capa? E a foto da matéria principal? Quantas vítimas? Quem sobreviveu? E o sofrimento do pai (Paulo Paixão) que perdeu o segundo filho no acidente? E a esposa que não terá mais o marido retornando para casa? E o filho? E a mãe? É dor de longe, de gente desconhecida do teu dia-a-dia que bate como soco no peito. Dor, confusão, cansaço, vontade de chorar, correr, desviar o pensamento....O dia terminou, a edição está fechada e eu ainda não sei o que dizer que possa fazer a diferença. Não sei porque não tenho o que dizer. Me solidarizo apenas com o meu silêncio.