OPINIÃO

Compadrio no poder

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+


O ex-ministro Marcelo Calero, no começo dos fatos, parecia jovem acuado ante a esperteza e o poder dos raposões do Palácio do Planalto. Rosto jovem de alguém que não pertencia a nenhum grupo forte do poder. O ministro especial, Geddel Vieira Lima, no seu compadrio com o presidente, em poucos dias acomodou-se nos altos escalões de Temer, em ato contínuo ao banimento da presidente Dilma, em nome da moralidade pública. E assim foi o episódio da demissão de ministro dileto de Michel, a quem Calero negara favores de governo. O todo-poderoso Geddel pleiteava vantagens e pressionou Calero por liberação de obra de um prédio (de seu apartamento particular) em Salvador. Mesmo contra parecer de órgão (Funarte), que define critérios urbanísticos de preservação dos museus e obras de arte. Calero tem cara de inexperiente, mas foi rápido, em demitir-se do cargo e imediatamente botou a boca no trombone, antes que fosse acusado de qualquer coisa. Surpreendeu. Gravações entregues à PF estão em exame e chegam ao Supremo. Parece que subestimaram as convicções cívicas do ex-ministro da Cultura, o diplomata Marcelo Calero. Por isso tudo começou como pequena fagulha, ou centelha, quando Michel tratou o caso como insignificância. A propósito, a questão não é apenas ética ou moral, mas é semelhante aos casos de concussão, previstos no Código Penal, normalmente aplicado aos concursados. Geddel deixou o ministério, ainda que tardiamente, segundo seus próprios apoiadores.


Morte, dor e aflição

Além da morte que assombra implacavelmente a mente humana, a tragédia que assolou a Arena Condá foi além dos limites geográficos de Chapecó, Santa Catarina, Brasil e chega aos continentes do mundo. O contraste entre uma viagem de euforia transbordante num ambiente atlético de excelência e a abrupta queda do avião rumo ao jogo na Colômbia parece quase impossível à limitada compreensão humana. Todos os torcedores, dirigentes e atletas viviam uma bela sinergia de conquistas, protagonizada por jogadores em pleno enlevo de momento sadio e feliz. O absurdo contraste emocional da vida e da morte ampliou-se mais ainda. Não há raciocínio lógico, nem mesmo a implacável advertência escrita em relógios europeus “Omnia vulnerant, ultima necat” (todas as horas machucam, a última mata) ameniza a dor e aflição. O sofrimento coletivo é minorado pelo manto da solidariedade coletiva.

Mordaça por vindita
A Câmara dos Deputados deixou sua marca na sessão de terça-feira, no sentido de aplacar o ímpeto de combate à corrupção. Vieram emendas fora do relatório do projeto que prevê mais rigor legal contra a corrupção, especialmente o caixa dois. Já era esperado! O controle do poder punitivo do estado é previsto como norma e princípio constitucional. O que confunde a tarefa legislativa é a origem e legitimidade ética do momento. Não é oportuno priorizar punição ao Ministério Público e Judiciário por eventuais excessos. Tratada como urgência a previsão insere ponderação improvisada que é entendida como vindita, ou punição legal. Vingança! Há pouco tempo já tivemos a tentativa de consagrar proibições de denúncias, na famigereda Lei da Mordaça, que não prosperou. A proposta de cobertura legal a denunciantes, a leniência ou delação premiada, foram reduzidas num mesmo momento. Com a evidente situação de denúncia por corrupção deslavada envolvendo núcleos parlamentares ou aliados partidários, deputados surgem para barrar punições. Há sinais de atividade incestuosa na orientação legislativa.

Retoques:
A manifestação da primeira Câmara do Supremo Tribunal, isentando de crime o aborto em gravidez até o terceiro mês reabre discussão difícil. O debate exige separação entre convicções religiosas e o estado de direito.
A dor e a saudade estarão sempre na vida de uma multidão que sofre com a tragédia do acidente que matou atletas, jornalistas e dirigentes da comitiva chapecoense na Colômbia. A vida, no entanto, precisa recomeçar.

Gostou? Compartilhe