Como se vê, a linguagem das ruas revela uma transformação de foco nas manifestações, eliminando paulatinamente a tendência passional partidária. Surge com evidência o movimento mais isento da influência perdedora das eleições e os manifestantes mostram-se centrados na anticorrupção. Assim, como observa Elio Gaspari, a decisão do ministro do Supremo presta um favor ao Senado ao afastar o presidente da alta câmara. Não se pode negar o efeito intervencionista de uma decisão monocrática, semelhante ao ocorrido com o afastamento de Cunha da Câmara Federal. Mais forte, no entanto, é o peso da história maculada do Parlamento que repete erro moral e ético ao eleger para a presidência do legislativo pessoas como Renan ou Cunha, crivados por acusações de condutas que o tornam incompatíveis com o exercício do cargo. A rigor, esta situação não tem solução sob a ótica da desejada lisura mínima que move a luta popular das ruas. O problema vem de longe, com ampla cumplicidade dos poderes políticos que sabiam quem é Renan. E, nas articulações de governabilidade ele teve inflado seu poder de manobra. É considerado pelo governo Temer (bastante fragilizado) como o mais poderoso representante a defender o projeto urgente do teto orçamentário. A decisão do ministro Marco Aurélio colocou no cenário do rumo político o inadiável entrave legal a Renan e seu poder, com base na definição do pressuposto da linha sucessória presidencial: quem é réu em ação criminal (neste caso) não pode permanecer na linha sucessória. O acatamento da ação contra Renan, pela Rede, não é fato inusitado. Inusitado é um político de proa com tanta fragilidade estar no poder. O ministro apenas apertou o gatilho de um disparo preconizado pelas condições de fato. O problema é que o tiro atinge a já exprimida governabilidade. E tudo pode descambar, como revelam esforços de temer para resolver o tremor entre poderes.
Fora da linha
A tendência é prosperar negociação que amenize a crise entre legislativo e judiciário, e que Renan permaneça no cargo, mas fora da linha de sucessão presidencial. O vice-presidente do Senado, Jorge Viana é um petista. Se isso complica ou não, também é parte da negociação.
Reforma
A previsão de reforma da previdência, no projeto encaminhado ao Congresso busca equilibrar o orçamento para o futuro. Basicamente é obedecer o princípio de gastar o que se arrecada. É controlar o que entra e o que sai do cofre. O risco é semelhante ao que aconteceu na Grécia, onde foram aprovadas vantagens históricas que acumularam prejuízos, com resultado de insolvência previdenciária. É claro que a reforma não toca em renúncias fiscais escandalosas, lucros dos bancos ou perdas por transferências internacionais por conta de gigantes mundiais assentados no Brasil. Outras medidas parecem razoáveis, como o aumento de idade de aposentadoria, pedágios e redução das pensões dinásticas. Os magníficos salários também poderão ser alvo de cortes na aposentadoria. Agora, o que parecia vantagem simpática parece orgia previdenciária. Isso tudo, no entanto, vai demorar, ainda que se espere seriedade no debate.
Retoques:
?No meio de tantas discussões, ouve-se, pela primeira vez, a preocupação de estender o direito adquirido no caso de aposentadorias consolidadas, que favorece também rendimentos menores.
?Está cada vez mais difícil de assimilar o sinal vermelho com a inviabilidade financeira de hospitais gaúchos na capital e interior.
?No movimento solidário pela tragédia da Chape, o povo colombiano deixa imenso ensinamento de humanidade. Falamos da força atávica de fraternidade com a perda de vidas. Além das condolências, as emoções de raiz traduzem um alerta contra a ação doentia das matilhas ou alcatéia de supostas torcidas organizadas que praticam violência nos estádios. O exemplo colombiano e tantas ações de solidariedade gritam ao mundo que o futebol é energia de paz!