Uma cidade jornalizada

Em 2017, a Jornada Nacional de Literatura está de volta e vai realizar ações para envolver toda a cidade num processo de jornalização

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Fortalecido por uma demanda vinda da própria sociedade, o termo jornalização já era utilizado pela comissão organizadora da Jornada Nacional de Literatura, uma promoção da Universidade de Passo Fundo e da Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Substantivado para a 16ª edição, que acontecerá entre os dias 2 a 6 de outubro de 2017, o termo ganha forma e vai mobilizar toda a cidade em ações para aproximar a festa da literatura do dia a dia da comunidade.

Segundo o professor Dr. Miguel Rettenmaier, que integra a coordenação do evento, pesquisas internas e externas foram realizadas, auxiliando o grupo a chegar à conclusão de que as pessoas gostariam de viver de forma mais intensa e próxima as atividades da Jornada. “De certa forma, a cidade queria, como elemento geoposicionado,  incluir, em si,  as atividades da Jornada. Em outras palavras, a jornalização implica o desenho de não fazer a cidade receber um evento, mas tornar-se também palco para as diferentes plateias, deixando de ser um entorno para ser um dos centros, ampliando a grande ideia que foi e é a dos Festerês Literários, realizados já há alguns anos”, destaca, lembrando que o termo já tinha um uso informal entre os integrantes da equipe de coordenação.

Atividades para unir a comunidade

De acordo com Rettenmaier, não existe um conceito fechado sobre a palavra jornalização. O que se pretende, na organização da programação, é ouvir a comunidade e estar perto dela. Nesse sentido, dois projetos já estão definidos: o Festerê Literário e os Projetos Transversais: rotas leitoras.

Os  Festerês Literários têm como objetivo a preparação para a movimentação cultural, com atrações destinadas a crianças e adultos. Eles contribuem para o alcance dos objetivos das Jornadas: formar leitores literários, multimidiais e sensíveis às diversas manifestações artísticas e constituir, também, plateias preparadas para apreciar as diferentes linguagens, integrando apresentações musicais e teatrais, entre outros. 

Dentro dos Projetos Transversais: rotas leitoras, será proposto um caminho de leituras, via aplicativo, com atualização dos conteúdos dos túneis de leitura. O caminhante andará pela cidade por caminhos diversos, com informações sobre a cidade na rota escolhida, pelos pontos turísticos e locais históricos da cidade. Esse projeto será realizado em parceria com o Escritório Modelo da Arquitetura da UPF (Emau). As ações irão se consolidar com o apoio e o investimento da comunidade. 

Além disso, a programação contará com a atividade Livros na mesa: leituras boêmias, composta por debates e discussões abertas em bares da cidade e espaços culturais no período da Jornada, sempre entre 22h e 24h. Depois dos debates, haverá shows com músicos da cidade. 

Quem se deixar envolver pela jornalização também poderá participar do Caminho das artes. A ideia, segundo o professor, é “envelopar” um quarteirão na cidade, em uma atividade que tem início às 21h e se estende até aproximadamente a 1h da madrugada. Convidados, escritores e artistas  circularão por esse espaço, aproximando-se dos leitores. Haverá decoração especial, com fragmentos de textos literários. 

Uma cidade leitora de fato

Na opinião de Rettenmaier, a Jornada pertence aos leitores, sejam os que são residentes da cidade, sejam os que viajam até aqui para participar da programação. Assim, a ideia de constituir a cidade como efetivo espaço da Jornada é uma forma de ampliar esse pertencimento. “Temos a preocupação de fazer da cidade um espaço de leitura em um duplo e profundo sentido”, disse.

O professor explica que a ideia é motivar as pessoas a lerem a cidade, o que ela apresenta e como ela se apresenta em diferentes semânticas. Para ele, a cidade é um espaço feito em camadas, feito de limites e de movimentos dinâmicos. Em sua opinião, ler conscientemente a cidade significa ler a sociedade e a história em potência e atualização.  Por outro lado, a ideia da comissão é também fazer com que as pessoas leiam “na” cidade. Isso significa fazer dos espaços públicos ambientes nos quais as pessoas leiam, conversem, debatam, dialoguem. “As ruas e avenidas não podem ser restritas a meras linhas de trânsito, entre a casa e o trabalho, entre distintos  pontos privados de existência e coexistência. Devem ser espaços também de alguma permanência. Se pensarmos que a cidade se veste de formas diferentes em momentos diferentes, não podemos esquecer que é função cidadã das pessoas vestirem a cidade com a sua presença, com se fossemos nós, os leitores, signos de uma semântica permanente de leitura”, pontua.

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