Fiquei feliz ao ser convidado para participar do excelente programa Emoção, Afeto e Comportamento do colega Érico Heckteuer na última terça na Rádio Uirapuru. Tecemos considerações à cerca do sentimento nostálgico e, muitas vezes, melancólico desses momentos de fins-de-ano. Considerei que o natal, como nascimento de Jesus e as reflexões inerentes a esse acontecimento histórico-metafísico-religioso, não necessariamente se reveste de melancolia. Chegaremos, se assim se dispuser, à fé por caminhos diversos. O primeiro deles se dá pela coação-imposição que brota na infância: Deus-Jesus é imposto pelos pais, professores e sociedade. A criança não discerne, aceita. O natal não lhe é melancólico, a não ser que não ganhe presentes natalinos. O que lhe interessa é o agrado material. O segundo caminho surge na adolescência-questionamentos quando se contestam todas as convenções. O pai-quadrado, a mãe-ultrapassada, a ceia natalina-conveniência social acompanhada de orações e discursos enfadonhos. Os adolescentes geralmente comparecem porque os pais exigem. E, na madurez temos outra percepção do natal, agora com convicções, sem coação e sem os arroubos imberbes. O natal, então, passa a calar mais fundo. Assistimos aos surrados filmes natalinos norte-americanos que geralmente versam sobre descrentes que são submetidos a histórias de milagres e, enternecidos, ficamos com os olhos marejados. Alguns filmes escancaram nossas limitações e o quanto estamos longe do Criador. Essa atmosfera é severamente ampliada porque há uma semana do final do ano, ao passamos a régua, geralmente brota o grande conflito existencial entre o que pensamos e o que fazemos. O scout mostra pontos positivos e negativos, mostra perdas, mostra falta de recolhimento, o olhar para dentro de nós mesmos e ficamos entristecidos por tudo o que deixamos de fazer. Talvez se o natal caísse em maio, distante do final do ano e das autocobranças, não fosse melancólico.
Vejam bem, natal: homenagem ao nascimento do Filho de Deus – melancolia. Páscoa: crucificação do filho do carpinteiro e não lembro de ficarmos melancólicos nesta data, ao contrário, estamos envolvidos com as crianças e os ovos trazidos pelo coelhinho. A alegria seria para o milagre da imortalidade-ressuscitação, transformação da vida material em eternidade?
Será sempre assim para muitos de nós, alegrias ou melancolias se não dispusermos a refletir mais a fundo sobre nossas existências. Sempre digo que fazemos a travessia, vida é travessia, Moisés atravessou o deserto, nós também podemos; a travessia tem que ser em alto estilo e nada pode ser em alto estilo se não entendermos quem somos nós e o que queremos; e de nada disso saberemos se não conversarmos com nós mesmos.
Érico lembrou uma crônica publicada no O Nacional em 31.12.2011 assinada por mim que tem o título Ano Novo, Vida Velha. Li e percebi que estava tão bem escrita que duvidei que fosse de minha lavra. É sobre isso que está disposto aqui. Entre 2011-2016 evoluí espiritualmente e tenho boas chances de não ficar melancólico. Mentira, mentira, mentira porque sempre ficaremos com a sensação de que, embora muito tenhamos feito, houve muito que deixou de acontecer. E o que não houve e o que não foi tem a nossa participação direta ou indireta.
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