A realização do procedimento de transplante de medula óssea em Passo Fundo está mais próximo. O projeto de implantação da unidade de transplante, do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), foi apresentado na tarde desta terça-feira (20), por autoridade gaúchas. A implementação da unidade será resultado de uma soma de esforços do poder Executivo e Legislativo, do ex-deputado Beto Albuquerque - engajado na causa e autor da Lei Pietro - e do HSVP.
Na reunião, os médicos Pablo Santiago e Moema Nenê dos Santos, apresentaram números que justificam a importância de colocar o serviço em funcionamento na cidade. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), é de mais de 10 mil novos casos de leucemia em 2016, no Brasil. A leucemia tem como característica o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Para tratar a leucemia, o transplante de medula é fundamental.
O número crescente de casos vão ao encontro do aumento no números de doadores de medula. Beto Albuquerque salientou que há doadores sobrando graças a solidariedade dos brasileiros. Há oito anos, quando o filho de Beto, Pietro, faleceu por falta de um doador de medula óssea compatível, havia cerca de 4 milhões de doadores cadastrados no Brasil. “No RS eram 45 mil doadores há oito anos atrás, hoje somos mais de 300 mil doadores gaúchos cadastrados e o sistema brasileiro se ligou aos sistemas estrangeiros, então a oferta de doadores de medula hoje, para quem enfrenta o câncer, a leucemia, ou outra doença, encontra 27 milhões de pessoas com potencial doação de medula óssea”, explicou.
Ao tempo em que se tem potenciais doadores compatíveis, falta-se estrutura para realizar o transplante, de acordo com o secretário estadual de Saúde, João Gabbardo. “Hoje nós temos poucos serviços no Rio Grande do Sul (RS) [de transplante]. As pessoas que necessitam de transplante conseguem o doador, ou seja, ultrapassamos a fase de que as pessoas não conseguiam doador compatível, mas está demorando muito para realizar o procedimento. Então muitos estão perdendo a vida porque não conseguem acesso a um hospital para fazer o transplante”, enfatizou.
O hospital tem uma abrangência, em Passo Fundo e nos municípios da região, de dois milhões de pessoas que recebem diversos serviços especializados como tratamentos intensivos, ambulatórios, cirurgias especializadas, entre outros. A necessidade dessa estrutura surge, uma vez que atualmente existem três hospitalares habilitados no Estado para realizar o transplante. Mais de 50 pacientes esperam na fila para realizar o procedimento, de acordo com Santiago e Moema.
A busca por recursos
A implantação da unidade na cidade é unanimidade entre os diferentes setores e os esforços estão voltados na busca por recursos financeiros. Gabardo explicou que, devido as condições financeiras, o Estado não tem como custear sozinho, mas que se compromete em auxiliar com o que puder. O prefeito Luciano Azevedo, reforçou o compromisso do Executivo nessa iniciativa. “Nos comprometemos em ajudar financeiramente a viabilizar o projeto, e faremos isso. É uma conquista que todos nós temos que construir juntos, buscando recursos federais, na viabilização, no apoio da comunidade e também na concretização da obra de implantação. O HSVP tanto tem feito pela cidade e pela região, com todas essas forças somadas, que eu não tenho dúvidas de que em um prazo breve de tempo o Centro de Transplante de Medula Óssea será uma realidade” afirmou.
Transplantada
O transplante de medula óssea salvou a vida da Eduarda. As palavras, não ditas, estão nos olhos de sua mãe. Há aproximadamente quatro anos, a filha de Bernadete da Rosa Bueno começou a sentir-se mal. Após várias consultas e exames mais detalhados, veio o diagnóstico. “O médico pegou os exames e me disse: quimioterapia significa algo para ti? Eu pensei, tu ouve falar em quimioterapia é câncer né”, relata a mãe. A pequena Eduarda, na época com oito anos, estava com leucemia linfocítica aguda . “Após pegar os exames e consultar, ela já internou no hospital e começou o tratamento”.
No início houve receio em realizar o transplante. “Tinha um doador com 90% de compatibilidade. Eles não queriam fazer por ser 90%. Eu engravidei para tentar pelo cordão do bebê, mas não foi compatível. Então eles decidiram fazer do doador de 90%. no começo eu não tinha muita esperança, porque as pessoas falavam que as pessoas morriam disso. Mas depois fomos conversando e recebendo informação disso. Eu tinha medo que desse rejeição na medula. Mas logo após o transplante, a contagem de leucócitos já normalizou”, explica. Bernadete lembra que durante o processo do transplante, precisava se dividir para cuidar dos filhos. Passava parte do mês em Porto Alegre com Eduarda, e parte em Passo Fundo, com o filho pequeno. Ela afirma que se tivesse o procedimento no HSVP, teria sido muito mais fácil.