Os novos arranjos familiares do século XXI desafiam os profissionais da saúde e da educação. Novos processos e reorganizações ocorrem, porém, seus resultados nem sempre trazem harmonia e felicidade ao lar. E ainda, muitas vezes resultam em conflitos psicológicos e comportamentais nos filhos, que às vezes são ignorados por não saber-se lidar com as novas situações vigentes.
Os novos processos sociais influenciam diretamente no lar, como a mulher no mercado de trabalho, acumulando funções de provedora do lar, mãe, esposa, com as atividades domésticas. Em alguns lares, os pais estão assumindo algumas tarefas do lar e participando mais da educação dos filhos. Contudo, são a minoria. Ao mesmo tempo, parecem perder a função de autoridade onde a colocação de limites está ficando em segundo plano. Esta situação é muito percebida no ambiente escolar pelo comportamento desajustado e desafiador que muitos alunos apresentam.
Ainda, em muitos lares hoje percebe-se a presença dos avós nos cuidados diretos com os netos, uma vez que pai e mãe trabalham fora de casa. É fato que os avós, em grande parte, não tem a mesma energia dos pais para impor limites e regras, o que também pode ser fator de desajuste comportamental das crianças. Outra questão importante é o divórcio. Com a diminuição das formalidades (cerimônias e documentação), casar e descasar se tornou relativamente fácil. Porém, de uma união geralmente resultam filhos e falta de planejamento nestas uniões e desuniões têm reflexo direto no emocional das crianças, pois muitas vezes são permeadas por brigas e discussões que acabam resultando na alienação parental, o que é extremamente prejudicial para as crianças.
No que se refere a educação, a educação moral deveria ser o objetivo principal do lar. Contudo, questões como o hedonismo, o individualismo, a competição, o consumismo acabam sendo fomentados dentro da família. A falta de tempo para conviver com os filhos, sem dúvidas, é uma grande problemática a ser repensada. Além disso, repensar também conceitos errôneos de felicidade e realização pessoal. Todo pai e mãe quer que seu filho seja feliz. Mas, o que traz felicidade no século XXI?
A crise da autoridade onde a negligência acaba sendo a principal estratégia atualmente utilizada, onde pais se submetem aos desejos descabidos dos filhos. Educar exige energia, ser uma autoridade no lar, exige ainda mais energia. Dizer um “não” com coerência e fundamento exige uma disposição que muitos não se sentem em condições ao final do dia, quando finalmente encontram seus filhos. A falta de autoridade tem reflexos diretos no comportamento, nas emoções, na atenção e até mesmo na fala das crianças. A falta de limites dentro do lar tem reflexos diretos nos limites do que fazer ou não em relação a outras pessoas, lugares e até mesmo nos turnos de fala, onde não sei a hora de iniciar e parar uma conversação, desrespeitando os turnos de fala alheios.
O findar do ano nos convida à reflexão. Quando se têm filhos, deseja-se e sonha-se com boas escolas, com a futura profissão, com o ganho financeiro. O que se torna um erro quando não aliado a um planejamento da educação moral, questão que a escola não dá conta. São necessários conhecimentos básicos acerca do desenvolvimento infantil, sabendo o que esperar em cada idade. Além disso, precisamos fazer nossas crianças conhecer noções de limites, primeiramente dentro do lar, para que mais tarde as leis e regras sociais possam ser respeitadas. Podemos proporcionar algumas frustrações dentro de casa, dizendo os “nãos” necessários que fortalecem os indivíduos para receberem com resiliência os “nãos” que mais tarde a vida proporcionará. Por fim, é preciso pensar que 2017 e os outros anos porvindouros só serão melhores se investirmos com afetividade e amor na construção da personalidade e do caráter das nossas crianças hoje, pois elas trabalharão pelos dias melhores que todos sonhamos.