No dia 22 de abril de 1500, os portugueses de Cabral descobriram esta terra deslumbrante e tiveram os primeiros contatos com os nativos, donos desse território. Deram presentes e se mostraram amistosos para convencer os legítimos representantes silvícolas, como se fossem os deputados da era tribal. Depois foram avançando e expandiram as fronteiras com algumas quinquilharias, inclusive espelhos, que embaraçavam os pajés. Os padres da Igreja católica faziam parte do poder, unha e carne com o Estado. Não demorou muito e o processo civilizatório virou poder, exploração de ouro e pedras preciosas. Ao mesmo tempo a fúria do ouro esmagava a civilização nativa com artilharia, traições, massacres de crianças, mulheres estupradas, índios assassinados ou escravizados. E hoje a história denomina heróis bandeirantes aos verdugos que exterminaram a cultura dos índios brasileiros, que viviam da caça, pesca, e agricultura. Mesmo sem considerarmos os repugnantes séculos da escravidão de negros africanos, foi um período lúgubre de nossa história de opressão. Os jesuítas foram derrotados nas reduções que formavam comunidades pacíficas na fronteira gaúcha. Os paredões em ruínas remanescentes das antigas igrejas e escolas, rebanhos de gado, ainda clamam vingança, ultrajados pela brutal dominação na disputa de poder espanhola e portuguesa. Tiraram tudo dos donos desta terra. Fizeram-no um povo escravo que, igual aos negros trazidos da África, perderam os nomes, a liberdade, que lhes não restava nem mesmo ao direito de morrer. A vida era golpeada por mãos oficiais que estabeleceram dinastias do ouro, onde poucos enriqueceram na esteira funeral de seres humanos iguais a nós.
Democracia é feia
Ao longo dos séculos de martírio de nosso povo foram surgindo testemunhas de liberdade que plantaram no subsolo dos cadafalsos, sementes de liberdade, germinadas neste cruor horrendo. Tiradentes, Sepé Tiaraju, Zumbi dos Palmares e tantos heróis da liberdade fomentaram a sede de justiça social. Dela nasceu a idéia da democracia, no grito da Independência, na abolição da escravatura ou nas revoltas em redutos dos sertões. Veio a República, rompida várias vezes por ditaduras civis e a mais recende ditadura militar. Mas, mesmo na evolução do estado cidadão, com a nova Constituição Federal, os pilares de poder continuam ostentando. Agora, com a mudança do estado policialesco que antes só tangia aos pobres, a artimanha de dominação continua sua estratégia sub-reptícia. As revelações de corrupção sofrem manipulação. Palanques mentirosos que bradavam por democracia silenciaram. A polícia chegou ao asfalto e está calando falsas elites, que já enxergam uma democracia feia.
Barões da mídia
Entre os barões da mídia, poucos se inserem num contexto de coragem profissional. Preferem declinar do compromisso com as verdades. As pautas são seletivas e, não raro, se concentram no funcionamento dos vôos nos aeroportos, preço do chocolate, a onda pet e o automóvel. Supérfluo!
Corpos dilacerados
O sistema prisional deixou de ser limbo para se tornar inferno dantesco. A eclosão do episódio brutal na penitenciária do Amazonas revela outro poder também conectado à ganância pelo dinheiro. A desembargadora Encarnação das Graças Sampaio está sob investigação de beneficiamento injusto. A violência no presídio já não é prenúncio. Dezenas de corpos decapitados, trucidados ou carbonizados são o horror presente.
Sem acaso
Prestemos atenção no poema (bandido Negro) de Castro Alves, um vaticínio sobre a cena brasileira cotidiana: “...Somos nós, meu senhor, mas não tremas/ nós quebramos as nossas algemas/ pra pedir-te as esposas ou mães./ Este é o filho do ancião que mataste./ Este o irmão da mulher que manchaste./ Óh, não tremas, senhor, são teus cães...”. Fala-se que nada acontece por acaso.
Retoques:
Momento inusitado na história, para tomarmos postura perante tudo e dizer se queremos afundar de vez, ou mudar o rumo. Talvez julgando menos e agindo mais!
Emoções e recordações boas no final de ano, destacando o papel importante de regentes, como Teresinha Fortes Braz, Marisa Eichelberger, e Davi Reginatto. Essas pessoas transformam o tempo em melodiosos sons.