OPINIÃO

"A não-violência: estilo de uma política para a paz"

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As poucas horas do ano de 2017 registram uma grande quantidade de cenas de violência e um impressionante números de mortos. Chamou-me atenção uma frase que li no final do ano passado: “ainda vamos ter saudades de 2016”. Expressão cheia de ironia, mas que pode se tornar verdadeira se as pessoas e a sociedade se renderem ou se conformarem passivamente à violência ou reproduzirem um estilo de vida violento.
No dia 1º de janeiro de 1967 o papa Paulo VI publicou uma mensagem de paz, fazendo desta data o Dia Mundial da Paz. Cada ano os papas enviam uma mensagem de paz aos católicos e a todas as pessoas que quiserem se associar a esta causa. A mensagem do papa Francisco deste ano teve como foco: “A não-violência: estilo de uma política para a paz”. O pontífice inicialmente deseja a paz a cada pessoa e, a seguir, propõe a não-violência, inspirada no modo de viver de Jesus Cristo. A presente reflexão intenciona repercutir a mensagem do papa Francisco.
“Não é fácil saber se o mundo de hoje seja mais ou menos violento que o de ontem, nem se os meios modernos de comunicação e a mobilidade que caracteriza a nossa época nos tornem mais conscientes da violência ou mais rendidos a ela”, questiona-se o papa. De fato, vivemos “uma terrível guerra mundial aos pedaços”, como as guerras entre países, terrorismo, criminalidade, ataques imprevisíveis realizados pelas mais diferentes motivações, tráfico humano, violência familiar, devastação ambiental.
O tempo de Jesus também era de violência. Mas Ele não se rendeu a este estilo de vida e traçou o caminho da não-violência. Pregou o amor que se estende até aos inimigos, não aceitou ser defendido pela espada de Pedro e, por fim, perdoou os que o matavam.
Também mostrou que o coração humano é conflituoso. “Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho insensatez” (Marcos 7, 21). Reconhecer e assumir que cada um carrega uma dose de violência é necessário para mudar de postura e tornar-se instrumento de paz, como nos lembra São Francisco de Assis: “A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos vossos corações”
Pode parecer que “a não-violência signifique rendição, negligência e passividade, mas, na realidade, não é isso”. Temos na história tantos exemplos de líderes, de diferentes áreas, que assumiram esta bandeira alcançando grandes resultados. Convencer-se que a não-violência é mais poderosa que a violência é um desafio cotidiano e permanente.
“Se a origem donde brota a violência é o coração humano, então é fundamental começar por percorrer a senda da não-violência dentro da família”, nos provoca o papa Francisco. No Brasil, temos como fator positivo a lei “Maria da Penha” para proteger as vítimas, mas a necessidade desta lei é uma triste denúncia da violência familiar. Todas as soluções de força, muitas delas com mortes, para resolver os conflitos familiares devem ser superadas “com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão. A partir da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo, irradiando para toda a sociedade”.
A mensagem termina com um apelo papal: “No ano de 2017, comprometamo-nos, através da oração e da ação, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações palavras e gestos de violência e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum. Nada é impossível, se nos dirigimos a Deus na oração. Todos podem ser artesãos da paz”.


Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
06 de janeiro de 2017

 

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