No dia 28 de outubro de 2015 a Sra Odete Becker da Rosa (75) deixou uma carta endereçada a mim no Hospital São Vicente em que tece elogios, demasiados certamente, aos escritos e ao caráter saudosista-nostálgico de algumas crônicas deste signatário. A Sra Odete e eu nos aproximamos pelo fato que estudou em Cruz Alta em 1957, ano em que nasci e pelo butim de humanismo ofertados pelos pais e que são semelhantes aos valores da cara leitora.
Reitero, porém, que não sou nostálgico, ao contrário, amo o agora, momento ternura de convivência harmoniosa com minha mulher e filhos e perfeitamente ciente do que fui estimulado a desenvolver social e profissionalmente. Ao me referir a passagens de minha infância tenho a certeza de buscar justificativas de passagens que me fizeram refletir sobre a vida e sua inexorável fonte de aprendizado, esse que só serve se estendido a pessoas que nos rodeiam. É absolutamente honesto o cronista ser autobiográfico ao estabelecer uma espécie de nudes, para usar um termo atual, expondo-se à sanha dos flauteadores. Mas, quem escreve não se importa com as maledicências, ao contrário, não busca beneplácitos. Busca, isso sim, de maneira inclemente, a pretensão de ser lido e que suas considerações permitam reflexões e, se possível, que sirvam de apoio a prospectar um cotidiano melhor.
Cara Odete, se permite revelar, sempre escrevi para um público alvo seletivo - minha mãe. Sei que sou lido por ela, esteja ela onde estiver porque tudo o que sei e sou tem muito de sua imensidão pessoal. Sempre pautei minha atitudes encarando meus pais nos olhos, sem piscar. O que faço deve eternamente servir de orgulho a quem deu tudo, todo o possível, para que eu chegasse onde pude chegar. Sou obra contínua de um pai que veio da colônia aos dezessete sem nunca ter tido a oportunidade, até aquela idade, de calçar um calçado fechado e de uma mãe sonhadora que estudou somente até o quarto ano primário e que depois teve que encarar o labor. Dessa confluência social brotou o Jorge, eternamente menino e sonhador, filho do Jorge e da Neca, atrevido a tentar entrar nos lares dos amigos e a tecer minutas de reflexões à cerca de um mundo que poderia ser melhor, já que poderíamos, todos, sermos bem melhores do que pensamos ser.
Por isso, ou também por isso, que me encanto ao perceber ser lido por pessoas da idade de meus pais. Sinto-me engrandecido pela carta, quase carta de minha mãe, a quem sonho encontrar para ter a eternidade para agradecer por tudo o dito e mostrado nessa nossa passagem. A minha geração soube apreciar os antecessores, escutávamos suas histórias-estórias sem interrompê-las: éramos absolutamente curiosos e o mundo inteiro parecia caber dentro de nossas bucólicas cidadezinhas do interior. Não éramos cidadãos do mundo, conectados, como agora; éramos cidadãos de Cruz Alta-Passo Fundo-outras e esse mundinho bastava a maioria de nós. Talvez, por essa razão também era fácil sedimentar o bom aprendizado e separar o joio do trigo, afinal, tínhamos de prestar conta de nossos atos dentro de uma pequena comunidade ou fugir dela. Mundo de Jorge-Neca, mundo de Odete, ao qual devemos agradecimentos eternos. Paz e luz, querida.
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