Conheci em Torres o cidadão do mundo Pedro Marodin, portoalegrense, , poeta, saxofonista, palhaço, escritor. Há muito largou tudo e foi viver da poesia, sujeito viramundo a percorrer todos os recantos do país e alguns de fora. Um dia dissera a seu pai: não quero ser profissional liberal; quero ser poeta, quero ser do mundo. Do que iria viver? De vender livros de poesia, de poesias que atingissem os corações inquietos e mentes perscrutadoras como a sua. Seus livros são prefaciados por Moacyr Scliar, Martha Medeiros e Luís Fernando Veríssimo. Simpático e feliz percorria a praia abordando os veranistas a oferecer seus livros. Comprei quatro, conversamos sobre suas viagens e sobre suas escolhas. Dorme dentro do carro, come o que tiver, é dono de si. Faz apresentações de circo, participou de grupos teatrais, teve várias namoradas mas, a ninguém se prendeu de fato. Esteve em uma das jornadas de literatura e gostou do que viu, quem não gostou? Um de seus livros é autobiográfico, é delicioso de ler porque mostra a coragem do cara anticonvencional e que largou tudo pelo seu sonho e liberdade absoluta.
Meu filho Ramon cursa engenharia mas, é fascinado pela arte da fotografia e por editar vídeos. Está iniciando nessa atividade e me parece ser prazerosa a tal ponto de não parecer trabalho. Está recebendo convites até do Rio pela qualidade das edições que já postou na internet. Trabalha no sonho, é baixista, toca guitarra. É meio Pedro Marodin. Minha filha Georgia cursa relações internacionais e acaba de terminar de escrever seu primeiro livro que julgo será sucesso pela razão de que trata de assuntos que interessam às mulheres e aborda situações referendadas em personalidades públicas da cultura mundial. Também está feliz e me lembra um pouco de Pedro Marodin.
Um dia houve um Jorge...tipo Marodin mas, isso foi em 1974-75 do qual me separei. Aquele que ficou pelas estradas da vida não gostava de gravatas e de imposições sociais, achava o mundo meio depravado e inconsistente; achava que o egoísmo e a hipocrisia eram as marcas que definiam bem a sociedade. Achava o mundo autolimitado, preso a regras fechadas, não pensadas não entendia qualquer tipo de discriminação social, racial, geográfica ou de costumes. Não queria fazer parte do rebanho inconsciente que nada contestava e tudo aceitava. Ao contrário de ser complexo era simples: “eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde prá plantar e prá colher...ter uma casinha branca de varanda...com quintal e uma janela só prá ver o sol nascer”. O outro Jorge viajou para longe e adotou os costumes da sociedade: gravata, avental, funcionário, cartão-ponto, CPF, vendeu a liberdade e abdicou muitos de seus sonhos. O amor pela família e por se sentir útil à sociedade é o que abranda suas angústias. Mas, não pode se excluir de uma sociedade, também construída por ele, com tantas desigualdades e impunidades, além do imenso vazio existencial que se verifica nas pessoas.
É bem provável que eles se encontrem, o Jorge Marodin e o Jorge Anunciação, um dia em uma praça ou praia, someday-somewhere como cantava Demis Roussos. Confesso a vocês que tenho receio em encontrá-lo; confesso a vocês que, mais do que receio, estou quase com medo. Peço a Deus que eu não sinta o pior de tudo... vergonha ao encontrar o Jorge 1974.
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