Motoristas pagam até R$ 40 por noite em estacionamentos de Passo Fundo

Somente no primeiro semestre de 2016, 309 automóveis foram roubados nas vias públicas da cidade. Preços de garagens não são regulamentados

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Quando estão em Passo Fundo, o casal João e Maria de Flores, de Pontão, evita ao máximo deixar seu carro na rua. “A rua é rua, não tem segurança nenhuma, você está sujeito a tudo”, começa o mecânico. Segundo ele, vale a pena pagar para evitar que seu veículo seja roubado. “Se colocamos em um estacionamento, mesmo que nos cobrem mais caro, pelo menos podemos confiar que ninguém vai levar o que é nosso”, defende. A desconfiança do casal da cidade vizinha não é infundada: pelo menos 309 motoristas tiveram seus carros furtados no primeiro semestre de 2016 em Passo Fundo, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança do Estado. Além destes, outros 637 registraram ocorrência de furto em 2015, assim como outros 427 em 2014.

O receio do roubo e a falta de vagas em locais públicos é uma soma para o crescimento do mercado de estacionamentos privados na cidade. De acordo com a Secretaria de Finanças, hoje estão registrados 191 alvarás da atividade no município. O preço de cada um, no entanto, é variado: como a função não é regulamentada, fica a cargo do proprietário decidir qual valor cobrará de seus clientes. Em média – conforme informações apuradas pela reportagem – os estacionamentos de Passo Fundo variam entre R$ 6 a hora, no modo rotativo. As horas subsequentes vão de R$ 1 a R$ 3, cada. Quem precisa deixar o dia inteiro ou a pernoite pode pagar de R$ 20 a 40.

Os estabelecimentos da capital, por outro lado, cobram por hora – em vagas descobertas – em torno de R$ 9. Para vagas cobertas, o preço sobe para R$ 18/hora. Em caso de atraso, 30 minutos adicionais custam R$ 3. As diárias ou pernoites, neste caso, também alcançam os R$ 40. “Infelizmente não temos controle sobre os preços: é o próprio mercado que regula. Não existe este tipo de controle por ser um serviço privado”, explica o secretário da transportes e serviços gerais de Passo Fundo, Cristiam Thans.

Preços livres
Para que se abra um estacionamento, a primeira necessidade é que se tenha um terreno com espaço. Este aspecto colabora para que os valores destes estabelecimentos em Passo Fundo se aproximem dos de Porto Alegre. “Eu tenho o meu preço, que é conforme o meu aluguel. Aqui ao redor do Hospital [São Vicente de Paulo] é onde tem o aluguel mais caro da cidade. Não dá para comparar com lugares mais retirados”, defende o dono de estabelecimento Luiz Carlos Rodrigues. Ele conta que paga aproximados R$ 7 mil por mês pelo terreno, com rotatividade de até 27 veículos. A empresária Cleci Seiffort, por exemplo, possui 10 empresas do ramo. Os alugueis somam, no total, cerca de R$ 30 mil/mês. “Aqui pago R$ 9 [mil], em outros lugares pago R$ 5 [mil], em outros R$ 7 [mil], outros R$ 4 [mil]. Na maioria dos estacionamentos não é o proprietário do terreno que toca o negócio, mas os locatórios. Quanto mais para o centro, mais caro o aluguel e, consequentemente, mais caro o nosso preço”, destacou.

Outro fator de influência, segundo ela, é a responsabilidade que os funcionários do estacionamento têm com os carros. “Se tem uma camionete, por exemplo, e outro carro dá um raspão ou bate, é nossa responsabilidade. Veja só quanto essa camionete vale. Somos nós que cuidamos, né?”, completa Cleci. O pagamento dos funcionários é outro fator determinante, por conta do adicional noturno. “Começamos a trabalhar no setor em 2000, num tempo em era R$ 1 a hora. Com o tempo fomos aumentando, não tem como não fazer isso. A gente procura não cobrar muito, mas também não podemos ficar no prejuízo”, pontua. Para ajudar na renda, os estacionamentos de Cleci contam com lavagem expressa e revenda de cosméticos. “A gente se vira com o que pode”, diz ela. Luiz Carlos também conta com lavagem no seu estabelecimento. “Se formos depender só do estacionamento não compensa, é muito pouco”, termina ele.


Estacionamentos pelo Brasil
De acordo com a Associação Brasileira de Estacionamentos (ABRAPARK), o preço mais caro de estacionamentos privados do país é de São Paulo. Por lá, a hora custava, em 2014 – no último estudo desenvolvido –, R$ 25. Em segundo lugar está o Rio de Janeiro, com R$ 20, seguido de Porto Alegre, com R$ 18. Segundo estatísticas da instituição, em 2014 o menor valor cobrado nas capitais brasileiras era de R$ 10, em Salvador. No estacionamento mensal é a capital carioca que se destaca pelo preço mais alto: todo o mês custava R$ 600 aos motoristas. O levantamento não foi realizado pela entidade nos anos seguintes.

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