Essa semana morreu Mary Tyler Moore. Sei que você nunca ouviu falar dela. Mary iniciou na TV americana no programa de variedades dos anos 1960 de Dick Van Dyke, outro desconhecido para a maioria dos que têm menos de cinquenta anos. Mary foi a precursora da mulher independente, ousada, assumida, beligerante. Foi copiada, como tudo o que é bom, pela TV do Brasil na personagem Malu Mulher (Regina Duarte). Em 1980 brilhou intensamente em Gente Como a Gente, filme dirigido por Robert Redford, que versa sobre a crise familiar advinda da morte violenta de um dos filhos do casal. A gente, sem ter mais o que fazer, há cinquenta anos, assistia TV o dia inteiro e esses personagens impactaram, de alguma forma. Assim, crescemos com Big Valley nas noites de sábado, Missão Impossível nas noites de domingo; Perdidos no Espaço, O Túnel do Tempo, Baretta, Kojak, Kung Fu, Bonanza, Zorro, Combate, McGyver, Jeannie é um gênio, Os Waltons...Dia desses estava assistindo do YouTube “por onde andam os personagens dos seriados” e deu saudade, a maioria morreu, assim como vão morrendo pedaços de nós. A gente vai desativando, visão, audição, memória, outras coisas que não lembro. Que chato, morreu Mary Tyler Moore, um símbolo e você nem sabe quem foi.
Minha filha me mostrou emocionada a foto de ontem de FHC abraçando, em condolências, o também ex-presidente Lula. Disse a ela que adversários políticos não são, necessariamente, inimigos. É assim que deve ser. Falei a ela que os homens são idiotas, que se encontram em velórios para prantear os falecidos e prestar solidariedade aos enlutados e combinam encontros que não se realizarão. É, ficamos encistados, enclausurados nos nossos mundos egoístas e vamos nos abandonando e as pessoas vão nos deixando e vamos ficando cada vez mais solitários à espera do chamado. É assim que é; é assim que vai ser. Mas, vamos à luta preenchendo os espaços com bobagens – futebol, novelas, fofocas, carteado...Criamos expectativas, tentamos mostrar ao mundo que permanecemos necessários. Ao homem se faz essencial a ideia do pertencimento, ser da turma, ser da tribo, ser lembrado, ser querido e necessário. Se a nada disso estivermos associados a morte física vem mais cedo.
Há uma turma de doutorandos e residentes se formando aos quais presto meus agradecimentos pelo convívio. A uns repassamos conhecimentos e conquistamos apreço e é o que ficará. A outros seremos descartáveis e, até, indesejáveis. Não importa, de alguma maneira são como filhos que seguirão suas vidas. Amamos os filhos, mesmo quando são desligados ou desrespeitosos. Afinal, tudo o que fazemos, nós os professores, não é por agradecimentos ou retribuições. Fazemos por nós, pela nossa consciência e pelo butim de conhecimentos, grandes ou pequenos, adquiridos dos professores mais velhos, aqueles aos quais minha geração é eternamente grata. São alunos, gostaríamos que todos fossem nossos amigos mas, a vida é assim, a gente que está de cabelos brancos deveria saber. Independente disso, boa sorte a todos, apliquem com presteza todo o butim que tentamos repassar.
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