Os analistas especializados na sétima arte (as outras são música, dança, pintura, escultura, teatro e literatura) escolheram Cidadão Kane, de Orson Welles (1941) como o melhor filme já realizado. A gente nem sempre concorda com os críticos. Mas, Kane trata da vida do gigante da mídia americana William Randolph Hearst cuja estrutura de comunicação definia o que o povo americano deveria saber e o que deveria passar batido. Época estranha aquela, deve ser horrível viver em um país cujas informações disponibilizadas por parte da imprensa são tendenciosas. No final do filme Kane balbucia uma palavra que ficou como ponto de interrogação – rosebud. O que queria dizer? Ora, rosebud era como Hearst chamava seu trenó de brinquedo. Também era como se referia ao clitóris de sua amante, a atriz Marion Davies. Chocante, não. Clitóris é clitóris mas, rosebud...
Dia desses alguns colegas insistiam na ideia de colocar meu nome à disposição para concorrer à eleição da cooperativa dos médicos em março. Lembrei de Kane e respondi: Plein. Plein é o meu rosebud para essa possibilidade. Em 2004 o Grêmio contratou o treinador José Luiz Plein que vinha de Santa Maria. Plein fez parte do Grêmio campeão nacional de 1981 (será que esse título a Fifa reconhece?) e sua carreira no imortal durou vinte jogos em que somou dez derrotas. A imprensa detonou seu trabalho e forçou sua saída. Veja o elenco do imortal: Márcio, Bilica, Capone, Baloy, Cocito, Zulu, Pitbull...assim nem David Copperfield. Na entrevista de despedida os sicários que haviam detonado o jovem treinador do interior perguntaram a razão do pedido de demissão. Plein poderia ter respondido que o elenco era horrível, que não havia grana para contratações, que não havia comando, etc. Mas, o elegante Plein colocou a mão no ombro de seu crítico e disse o seu rosebud, o mesmo que respondi aos colegas que me solicitavam meu nome à disputa eleitoral. Plein falou: quero ser feliz. Aos sessenta anos quero ser feliz, não quero ouvir reclamações de colegas ou de pacientes, não quero prometer o que não possa cumprir. Além disso, o atual presidente e seu conselho de administração fazem um trabalho admirável e que deve ter continuidade.
Meus filmes inesquecíveis são: Lawrence da Arábia, O poderoso Chefão - trilogia, Butch Cassidy, Midnight Cowboy, Ao Mestre Com Carinho, Papillon, Retratos da Vida, Amadeus, O Sétimo Sentido, Duas Vidas, 2001 e, pasmem, Dança Comigo? Sei, os críticos não concordariam comigo mas, eu também não concordo com eles. Nesse musical em que Richard Gere faz seus tiques tradicionais eu vivia uma crise no casamento e a cena em que ele sobe pela escada rolante ao encontro de sua mulher e pede que ela dance me fez chorar copiosamente no cinema na presença de minha filha Georgia. Quando se separa pode ser que uma das coisas que tenha faltado é a dança, uma das artes. E, afinal, filme bom é aquele que toca o coração da gente.
Cada qual tem os seus rosebuds ou a manifestação final em que referimos o que realmente importou na vida que estamos a deixar. Meu rosebud sobre a vida pessoal quando tiver chegado a hora de ir embora: família..família...a eles diria que mesmo morrendo, vou morrer de saudades.
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