Ainda vemos pessoas que relutam compreender uma sentença condenatória por ato de discriminação racial. Assistem perplexos. Talvez não percebam o grau de crueldade da humilhação ao cidadão irmão de pela escura. Permanecem insensíveis à gravidade do hediondo crime perpetrado pela humanidade e pelos brasileiros durante séculos de atrocidade. A escravidão imprimiu no DNA nacional a indelével infâmia cujas conseqüências sociais perduram em mais diferentes cenários da vida cotidiana. E ainda vemos atitudes mais compadecidas aos maus tratos a animais de estimação do que às ofensas raciais. E ainda temos barreiras indisfarçáveis na composição do mercado de trabalho em razão da cor da pele. Pobre humanidade. A farsa social, no entanto, encontra muralhas constitucionais, felizmente conquistadas pela luta que resiste ao tratamento desigual.
Saber e respeito
Volta e meia precisamos voltar ao divã da compreensão humana para tratarmos de insanidades no comportamento pessoal e até coletivo. Muita coisa está mudando, mas é preciso continuar gritando forte, sem medo. As cotas nas universidades mostram o quanto podemos ganhar em riqueza e fraternidade com a participação mais justa do negro, na busca do saber e nas práticas profissionais. A prepotência (hoje) tem a cor branca, como podemos ver neste momento de dor coletiva para a nação, em que a corrupção desmonta a dignidade brasileira. Esta é a prova de que os mais brancos não são melhores ou piores por causa da cor. As diferenças são a individualidade de cada um, com suas potencialidades, virtudes ou fragilidades, mas podemos e devemos produzir espaços de igualdade. O respeito é a virtude de uma nação. Chega de desperdiçarmos a verdadeira riqueza de nossa nação, para descobrirmos a força que brota no pleno respeito entre pessoas de qualquer cor.
Novo ministro
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado teve 13 senadores investigados na Lava Jato, que sabatinou Alexandre Moraes indicado por Temer para a vaga do Supremo. Foram doze horas de sabatina no plenário. Momentos cansativos, não apenas pela tímida oralidade do candidato a ministro, mas pela natureza do implante de um subordinado do presidente. A sigla partidária é opção política que não pode desmerecer cidadão algum. Sem hipocrisia. A ligação direta do ministério político à Corte Suprema é intrigante.
Pensar pra frente
Os romanos costumavam dizer que “amor et tussis non celantur” (o amor e a tosse não se pode segurar). O senador Cristovam Buarque comentou na tribuna sobre a entrevista concedida a uma revista pelo líder Humberto Costa, do PT. Costa propõe evolução do debate nacional, incluindo superação de pragmatismos como a relutância ao golpe que tirou seu partido do poder, e também a defesa cega de acólitos radicais de Cunha e companhia. O líder petista pediu desculpas pelos erros na política nacional. Isso tudo porque é grave demais a situação do país e as lideranças devem atuar com urgência para encaminhar soluções. Sem abandonar as lutas partidárias, mas avançar no debate. O passado está comprometido demais com os preconceitos de ambas as partes e precisamos recomeçar o que está demorando demais. Não se trata de anistiar o crime, mas atuar contra o ultraje à democracia com eficiência nas suas causas de degradação. Mesmo com tudo o que precisa ser feito, a exemplo da Lava Jato, há coisas que precisam ser assumidas já! A tosse é terrível; difícil contê-la, mas existe o amor que não podemos segurar!
Retoques:
?As elites salariais devem ser cobradas neste momento de descontrole que aflige o povo. Supostamente são talentosos. Têm o dever, portanto, de achar soluções!
?Remédios no Brasil são os mais caros do mundo. Falta sobriedade no enfrentamento dos cartéis e da corrupção.
?Romero Jucá afirma que não é réu o que lhe dá o direito à disfemia, ao cunhar seu conceito com a expressão “suruba selecionada”.